Na semana passada, tratei neste espaço de uma pesquisa recém-divulgada pelo Grupo Caliber, especializada em inteligência de mercado, que indicava queda no número de potenciais compradores de veículos elétricos Tesla nos Estados Unidos. Uma das principais razões da diminuição do interesse indicadas pela pesquisa eram as atitudes do CEO da empresa, Elon Musk.
Eis que agora Musk volta às manchetes e, desta vez, envolvendo o judiciário brasileiro. O executivo multibilionário ameaçou desrespeitar decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinam a suspensão de contas da rede social X (ex-Twitter) e o fornecimento de informações sobre usuários.
Moraes é relator de inquéritos que apuram a circulação de fake news e ataques a urnas eletrônicas e ao sistema democrático brasileiro em plataforma digitais. Entre elas, a X. As declarações de Musk seriam uma reação ao que ele denomina como uma ‘repressão à liberdade de expressão no Brasil’.
O embate Musk x Moraes vem provocando, no Brasil e no exterior, uma profusão de análises que tratam o caso sob a ótica jurídica e geopolítica. Porém, há também uma série de eventos que valem ser lembrados para indicar uma relação conflituosa do bilionário com o ESG – para dizer o mínimo.
Em 2022, a Tesla foi retirada do S&P 500 ESG, índice do mercado de ações dos EUA composto por papéis de empresas reconhecidas por práticas sustentáveis. Na ocasião, Margaret Dorn, chefe de índices ESG da S&P Dow Jones, citou vários fatores para a decisão. Entre eles, incidentes de discriminação racial em uma das fábricas da empresa, que resultaram em uma ação movida pelo Departamento de Emprego e Habitação da Califórnia contra a Tesla. Além disso, a Tesla estaria em desconformidade com o índice por não apresentar informações sobre sua estratégia de baixo carbono.
A exclusão causou declarações indignadas de Musk, nas quais qualificava o ESG como uma ‘farsa’, uma vez que a empresa fazia mais pelo meio ambiente do que muitas organizações por fabricar veículos elétricos. No ano passado, a Tesla retornou ao S&P 500 ESG após adicionar informações ambientais.
Em janeiro, o The Washington Post veiculou notícia sobre a suspensão de perfis de vários jornalistas e comentaristas de esquerda do X. Entre eles, Ken Klippenstein (Intercept), Alan MacLeod (MintPress News) e Steven Monacelli (Texas Observer). Embora a suspensão das contas não tenha sido claramente explicada pela plataforma, a decisão provocou especulações sobre o posicionamento dos jornalistas sobre a guerra de Israel na Faixa de Gaza. Nesse sentido, perguntar não ofende: Elon, liberdade de expressão para quem?
Em linhas gerais, o ‘G’ do ESG é o pilar que diz respeito à transparência das corporações sobre suas políticas ambientais e sociais. Envolve também compromisso com a integridade, ética nos negócios, responsabilidade corporativa, respeito às leis. Sem a devida atenção ao ‘G’, não há ‘E’ que resista. Ao que parece, Musk ainda não entendeu essa correlação.
* Gilberto Lima é produtor de conteúdo, dono da Agência Celacanto, especializado em clima e finanças sustentáveis, e parceiro da Alter Conteúdo