Há 40 anos, o comício histórico das ‘Diretas Já’ no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, reuniu mais de 1,5 milhão de pessoas e marcou um ponto crucial na luta incansável pela restauração da democracia. Além da campanha por eleições diretas, o movimento representava a voz de um povo que clamava por liberdade, justiça e inclusão.
Hoje, ao celebrarmos o Dia dos Povos Indígenas, é essencial relembrarmos não apenas essa conquista, mas também reconhecer o papel vital dos povos originários na construção de um Brasil verdadeiramente democrático e sustentável.
Ainda enfrentamos desafios significativos para a inclusão e o reconhecimento dos povos indígenas em nossa sociedade. Ontem, o presidente Lula admitiu a frustração ao anunciar a demarcação de apenas duas novas terras indígenas – no Mato Grosso e na Bahia – em vez de seis, como anunciado anteriormente. Assim como lutamos por direitos políticos nas ‘Diretas Já’, os povos indígenas também travam uma luta constante pelo reconhecimento de seus direitos territoriais, culturais e sociais. Em comum, a busca por uma maior inclusão e respeito às diversas identidades que compõem a sociedade brasileira.
Muito além disso, é preciso reconhecer e valorizar os saberes tradicionais, que estão intrinsecamente ligados ao moderno conceito de economia regenerativa, considerando a gestão de sistemas ambientais que restauram, revitalizam e rejuvenescem seus próprios recursos. Suas práticas de manejo sustentável oferecem um modelo poderoso para uma abordagem mais holística e sustentável de desenvolvimento. Com respeito aos ciclos naturais, uso sustentável dos recursos, e valorização do conhecimento intergeracional e da cooperação comunitária, os povos indígenas não apenas protegem seus territórios, mas contribuem para a regeneração contínua dos ecossistemas.
Nesse contexto, é essencial implementar políticas públicas que reconheçam e apoiem (inclusive, financeiramente) sistemas agroflorestais tradicionais das comunidades indígenas e que estabeleçam parcerias para manejo sustentável dos recursos naturais.
Já não basta apenas preservar e conservar. É preciso ir além! É necessário regenerar e garantir que as vozes e os direitos dos povos indígenas sejam respeitados e protegidos. Não apenas hoje, mas para as futuras gerações.
Na perspectiva da nossa evolução democrática, a integração de saberes tradicionais com a economia regenerativa poderia honrar o legado das ‘Diretas Já’.
Bom fim de semana!
(*) Eduardo Nunes é parceiro da Alter Conteúdo