Diante da emergência climática, a inclusão da Educação Ambiental nas grades escolares tem sido debatida como uma medida de política pública. Em maio de 2021, a UNESCO lançou o relatório Learn for our planet: A global review of how environmental issues are integrated in education, que examinou os currículos de escolas em 50 países. O estudo revelou que mais da metade dos programas não menciona a mudança climática, e apenas 19% abordam a biodiversidade.
O relatório ressaltou a necessidade de um compromisso mais firme de governos, decisores políticos em educação e outras partes interessadas de promover a Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS). Na ocasião, a UNESCO fez um apelo para que a EDS se torne um componente central de todos os sistemas educacionais até 2025.
No Brasil, já existe uma movimentação nesse sentido. Em outubro, o MMA e o MEC recriaram juntos o Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental, com a perspectiva de criar políticas específicas para tratar dos problemas ambientais na educação infantil e nos ensinos fundamental e médio. No Pará, desde o início deste ano letivo, o componente curricular com temática em Educação Ambiental, Sustentabilidade e Clima para toda a educação básica está presente de forma obrigatória na rede estadual, e por adesão nas redes municipais.
Criar uma geração de cidadãos conscientes, responsáveis e engajados, capazes de enfrentar os desafios ambientais e trabalhar em prol de um futuro sustentável para o planeta é mais um grande desafio da sociedade global. Uma recomendação apontada pela UNESCO é tratar o assunto de forma adequada para cada faixa etária, de forma a não gerar medo ou culpa. As consequências do aumento progressivo da temperatura média da Terra são realmente assustadoras, mas o objetivo é fomentar soluções, não pânico.
Mas será que apenas incluir a temática nas salas de aula é suficiente para formar agentes e ativistas pelo clima?
Na semana passada, um vídeo passou pela minha timeline e me impactou profundamente. Era sobre o Transtorno de Déficit de Natureza – TDN.
A primeira vez que ouvi esse termo foi durante a pandemia de Covid-19, quando o isolamento social trouxe à tona um alerta feito pelo escritor norte-americano Richard Louv sobre os problemas físicos, mentais e emocionais que surgem quando as crianças passam muito tempo dentro de casa, imersas em dispositivos eletrônicos e distantes dos ambientes naturais. Assustador.
Mas não foi surpresa descobrir que o TDN não era um fenômeno novo, associado à pandemia. O livro de Louv – Last Child in the Woods: Saving Our Children from Nature-Deficit Disorder – foi publicado em 2005, quando o excesso de telas já era motivo de preocupação entre profissionais de saúde e de educação.
Convenhamos, as telas não são as únicas culpadas pelo distanciamento das crianças da natureza. O encolhimento das áreas verdes nos centros urbanos, a poluição ambiental, a falta de segurança e qualidade nos espaços públicos ao ar livre e, não menos importante, as restrições financeiras enfrentadas por muitas famílias para desfrutar do lazer ecológico são fatores que contribuem para agravar o problema.
É crucial reconhecer que o bem-estar humano está intrinsecamente ligado à saúde do planeta. Diminuir o tempo de contato com a tecnologia e reconectar as populações urbanas com os espaços naturais talvez seja tão importante quanto descarbonizar a economia e combater o desmatamento ilegal. Afinal, a gente não cuida do que não ama.