O governador Eduardo Leite se retratou. É fato! Fez bem! A fala sobre o impacto das doações nas áreas afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul foi absolutamente infeliz e sem propósito. Para quem ainda não viu, ele disse: ‘Quando você tem um volume tão grande de doações físicas chegando ao estado, há um receio, pelo que nós já observamos em outras situações, em outras circunstâncias, sobre o impacto que isso terá sobre o comércio local’. A preocupação se deu pela dificuldade de recuperação do comércio local devido à chegada de itens doados de outras regiões do país.
O pedido de desculpas foi uma ação necessária, de reconhecimento do erro, mas não apaga a preocupação inicialmente expressa que coloca interesses comerciais acima das necessidades humanitárias urgentes. O episódio destaca não apenas uma falta de sensibilidade, mas uma falha grotesca na comunicação em um período de crise.
Comunicação em tempos de crise deve ser guiada por empatia e foco absoluto nas necessidades imediatas das vítimas. A mensagem do governador poderia ter reforçado a solidariedade e a urgência da situação, em vez de suscitar preocupações econômicas que, embora relevantes em um contexto mais amplo de recuperação, são inapropriadas e insensíveis quando a sobrevivência e o bem-estar imediato das pessoas estão em jogo.
Pedir desculpas foi adequado, mas o incidente serve como um lembrete para todos os líderes: a importância da preparação e do treinamento em comunicação em crises. Líderes precisam estar equipados para falar com sensibilidade e precisão, priorizando sempre o humano sobre o econômico. A habilidade de comunicar efetivamente em momentos como esses não é apenas uma questão de manter a ordem pública, mas uma medida essencial para assegurar que a ajuda necessária seja mobilizada e aceita, sem reservas ou hesitações.
Aliás, esta semana a política do Rio Grande do Sul foi pródiga em falas infelizes. Dois vereadores – Sandro Fantinel (PL), de Caxias do Sul, e José Bortolini (PDT), de Garibaldi – sugeriram – de forma bizarra, acreditem – que o desmatamento poderia ter prevenido a tragédia. Dois exemplos preocupantes de informação falsa em tempos de crise. As afirmações ignoram completamente todo o conhecimento construído por décadas sobre os fatores ambientais e científicos que contribuem para desastres climáticos, uma vez que florestas e áreas naturais bem conservadas são essenciais para a absorção de água das chuvas e para a manutenção da regularidade dos rios, reduzindo o risco e a severidade das enchentes.
Como já dizia minha avó, em boca fechada não entra mosca!
(*) Eduardo Nunes é parceiro da Alter Conteúdo