Tomo emprestado o título do romance homônimo da espanhola Rosa Montero neste dia em que choverão cards, posts, e exaltações ao Dia Mundial do Meio Ambiente. No romance de não ficção, a autora discorre sobre sua ‘loucura’, sobre o que é a loucura, sobre o ser louca num mundo em que a dita normalidade deveria ser questionada, e em que há duas verdades imbatíveis: 1) Somos todos iguais; 2) Somos todos diferentes.
A autora transcorre sobre o que é a tal ‘normalidade’ e sobre as formas que encontramos de fugir da realidade indo para recônditos lugares da mente, inacessíveis mesmo aos que nos são mais próximos. Também tergiversa sobre o que somos no meio das multidões: ‘um rabisco fugaz, um rastro de fumaça que vai mudando constantemente de forma’. A autora aproxima sua condição de escritora, das peculiaridades que a fazem se sentir à parte do mundo dito normal, enumerando ao longo dos séculos os desvarios cometidos entre os que são do mundo das artes. Quase que os encastela e eleva os vocacionados semideuses artistas a outra condição superior à humana.
De certa forma, na minha cabeça também louca, e nada artística, o texto de Rosa conversa diretamente com um episódio do Podcast Escafandro, que trouxe à luz um movimento obscuro entre jovens de uma geração A e Z: o shifting. Uma ideia vaga e ‘louca’ sobre acessar realidades paralelas. Fugir para viver no mundo de Harry Potter, ou dar vazão a fantasias dentro das várias gavetas que a mente proporciona, se isolando do convívio social e da dita realidade, por convicção, e não apenas delírios. Não que isso não seja um delírio também, mas essas pessoas optam por ir pra Nárnia e não mais estar aqui em carne e osso. Muitas vezes até literalmente, já que o suicídio chega a ser prática velada neste meio. Um mundo sem volta. Para sair deste que já não basta e que se acaba.
O ponto é que escolho falar da lucidez – e especialmente da falta dela – justo hoje, em vez de trazer dados sobre o desmatamento, a crise climática, a elevação dos oceanos, o derretimento das geleiras, a morte de espécies, os eventos extremos, a seca, a chuva, a escassez de água, os desastres nada naturais, tudo isso… para ver se capto sua atenção, estimado leitor, que hoje banalizará esses temas entre tantos posts e se perderá nas diversas traduções desta celebração que vão variar entre as poéticas e as catastróficas. Entre os alertas e as exaltações.
As pessoas estão no centro dessa crise. Somos os dinossauros da vez. E puxo duas abordagens sobre a nossa saúde mental planetária, porque talvez seja chegada a hora de analisarmos a sério a pandemia pós-covid, que nos assola, mas não nos mobiliza de fato. Assombra, mas paralisa. Uma pandemia que ainda não interditou pessoas que duvidam, a sério, do que estamos presenciando.
A lucidez dos cientistas perde batalhas dia após dia para os que se acham normais por não abraçarem árvores. A lucidez dos poucos, já roucos, é insuficiente. Caminhamos juntos, trôpegos e inertes, para o precipício que nos espreita.
Somos todos iguais, mesmo que diferentes.
Em 5 de junho de 2024, estar lúcida é um perigo. Um perigo para a própria lucidez.