A desigualdade emerge como o nó que amarra alguns dos fatos marcantes da semana.
Ela é uma protagonista nos dados 2023 do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), divulgado na quarta-feira (14/8) pelo Ministério da Educação. Como mostrou a Folha, escolas públicas com alunos de menor poder aquisitivo apresentam uma defasagem de até quatro anos de aprendizado em relação às instituições públicas de áreas mais favorecidas. Em síntese, o Ideb mostra o que muita gente já sabe: é muito mais difícil para um estudante de baixa renda desempenhar bem na escola do que para um aluno mais rico.
A Lei 14.611/2023, que visa à igualdade salarial, não conseguiu romper a barreira da desigualdade. Um ano depois da aprovação da nova lei, a consultoria Mercer registrou pouca movimentação na equiparação salarial entre homens e mulheres. Levantamento da consultoria, publicado ontem no Valor, mostra que, entre outros pontos, somente 16% das empresas têm uma política de paridade bem definida, embora 64% admitam diferenças salariais em seus quadros.
A desigualdade ainda se amplia como um abismo que separa os brasileiros de seus representantes no Congresso Nacional, de todos os partidos. Ontem, o Senado aprovou a PEC da Anistia – o que pode ser considerado legislar em causa própria –, que revogou a determinação de que pessoas pretas e pardas devem receber verba eleitoral de forma proporcional ao número de candidatos, perdoou dívidas tributárias de cinco anos e criou um programa super ‘friendly’ de refinanciamento de débitos – um Refis para os partidos políticos.
A ONG Transparência Partidária estima que o valor total das multas será de R$ 23 bilhões. Somente para financiar a campanha deste ano, os 29 partidos em atividade hoje no Brasil receberão R$ 4,9 bilhões. A título de comparação, para este ano serão destinados R$ 14,2 bilhões ao Bolsa Família, para beneficiar 20,83 milhões de famílias.
Como se diz, o problema da desigualdade não é a falta de dinheiro para muitos, mas o excesso nas mãos de poucos. E quando alguém propõe alterar o status quo, vira alvo. No fim de julho, Luiza Helena Trajano, Neca Setubal, Alexandre Padilha e Paulo Pereira defenderam, em artigo na Folha, a taxação dos bilionários como estratégia para romper o ciclo de desigualdade, redistribuindo recursos de maneira mais equitativa. Proposta que gera muita resistência e desperta críticas ferozes.
Novas leis para equalizar as questões que geram as desigualdades são muito bem-vindas, mas a mudança demanda engajamento coletivo. Em ano eleitoral, é preciso recusar o papel de mero espectador, valorizar muito o nosso voto para fazer as melhores escolhas. Porque até pode parecer que todos os políticos são iguais, mas não são.
Sobre este tema, vale fechar com Aristóteles: Devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade.
Bom fim de semana!
(*) Eduardo Nunes é parceiro da Alter Conteúdo