11 de setembro de 2024 | Estratégia ESG, ,

‘Os cães ladram e a caravana passa’

Por Gilberto Lima

Para uns, ‘objetivos futuros responsáveis’. Para outros, ‘inovação responsável’. Há até quem use um certo ‘escalonamento consciente’. Artifícios linguísticos à parte para driblar o lobby político anti-ESG nos EUA, a materialidade de políticas ambientais, sociais e de governança por agentes do mercado financeiro local já está ‘precificada’, para usar um termo do jargão do setor.

Em março, a SEC, a ‘CVM’ norte-americana, adotou regras exigindo das empresas de capital aberto a divulgação de informações abrangentes em seus relatórios relacionadas às mudanças climáticas. No mesmo mês, contudo, um tribunal federal de apelações impôs uma suspensão temporária, enquanto aguardava a revisão judicial das novas regras.

Mas a vida segue. A Sustainability Accounting Standards Board (SASB) continua aprimorando sua proposta de estrutura de divulgação e de padrões setoriais para que empresas sejam capazes de responder solicitações de investidores institucionais. As normas buscam definir a materialidade de tópicos de divulgação com potencial de impactar significativamente a condição financeira, o desempenho operacional ou o perfil de risco.

Enquanto isso, a União Europeia desponta como referência mundial em políticas regulatórias de compliance mais rigorosas, que exigem das instituições financeiras demonstrações contábeis mais objetivas sobre a materialidade de práticas de descarbonização de portfólios. Definitivamente, uma demanda nada desprezível para gestores de todo o mundo, inclusive dos EUA.

No Brasil, dados mostram que a questão já não é mais ‘fazer’, mas ‘como fazer’. Em workshop da Capital Reset para profissionais interessados no tema, Ariane Ramalho e Maurício Colombari, especialistas da PwC, comentaram resultados de pesquisa recente da consultoria. Entre eles, o de que 67,6% das empresas consultadas responderam que pretendem seguir o cronograma estabelecido pela CVM para a adoção das normas ISSB em suas demonstrações contábeis.

É claro que apenas divulgações e relatórios não bastam para uma estratégia que busque resultados no médio e longo prazos. É imprescindível que os dados sejam acompanhados de um bom roteiro ESG, que inclua monitoramento regular de metas e métricas e compromisso com políticas sólidas de governança, principalmente por parte da alta administração.

* Gilberto Lima é produtor de conteúdo, dono da Agência Celacanto, especializado em clima e finanças sustentáveis, e parceiro da Alter Conteúdo

Por: Gilberto Lima