Vivemos na era da escassez, sem, de fato, percebê-la. Quando uma promoção incrível se coloca em nossa frente com a informação ‘corra, temos poucas vagas’, sempre sabemos (ou achamos que sabemos) como agir: clicar, comprar, consumir, resolver, assinar, produzir. Mas quando o planeta grita que não há recursos o suficiente, que as nossas escolhas têm consequências palpáveis e que é preciso nos entendermos como parte da natureza, o que a maioria de nós faz é se esquivar da responsabilidade. ‘Ah, porque o governo não faz nada’, ‘ah, porque a coleta seletiva não passa aqui’, ‘ah, porque ninguém mais está fazendo’…
Não há Planeta B. E se houver, os privilegiados convidados à nave do Senhor X serão poucos: 1% da população do planeta, formada por pessoas que detém dois terços das riquezas mundiais, segundo o relatório da Oxfam, como ilustra com genialidade o filme ‘Não Olhe Para Cima’, uma sátira à distopia que já estamos vivendo, disponível na Netflix.
Não há Planeta B, repito; então, a sugestão é cuidar melhor do seu lar de origem, mesmo que seus passos pareçam de formiguinha. Preferir sacolas e garrafas reutilizáveis, fechar a torneira ao escovar os dentes ou ensaboar os pratos, encontrar a solução mais adequada para a sua higiene íntima, aprender a reciclar, descobrir o upcycling, comprar com consciência, favorecer a economia circular, desistir de ‘greenwashers’ e agressores da natureza, observar um pouco a Geração Z.
Apesar das críticas que recebe de quem já estava aí ‘quando tudo era mato’, a Geração Z é formada por ativistas e pessoas preocupadas com questões ambientais e sociais relacionadas ao consumo. Não fazem o que todos estão fazendo só para não parecerem ‘quadradas’, como sempre foi o nosso medo e o dos nossos pais. Preferem e recomendam marcas com propósitos claros e que são alinhadas aos seus valores.
E não se engane, já tem bastante gente dando atenção ao seu discurso. Segundo relatório especial do Edelman Trust Barometer 2022 (A Nova Dinâmica da Influência), 62% dos brasileiros declaram que a Geração Z os influencia em decisões de consumo, porque agem a favor da mudança. Em todo o mundo, 70% da Geração Z diz se envolver em causas sociais e políticas, como, por exemplo, boicotar marcas que agem para além do que consideram correto. Empresas que fazem negócios na Rússia ou com ela foram ‘canceladas’ por 41% dos jovens, diz também o relatório.
Não adianta ter os valores mais bonitos sem ação. Ativistas de sofá ainda não mudaram o mundo. Não faz sentido apenas pintar uma unha de branco pela paz e publicar a foto nas suas redes. É preciso lutar. É preciso mudar. É preciso perceber que os recursos desse planeta são o que nos mantém vivos, não o contrário. E antes que dê tempo de esquecer, um reforço: não há Planeta B, não há Planeta B, não há Planeta B.