Pelo recente passado escravocrata e suas consequentes feridas estruturais que, ainda hoje, nos afetam como sociedade, 20 de novembro deveria ser uma data de reflexões e avaliação de nossos avanços.
Já parou para pensar na quantidade de pessoas negras que tiveram suas prosperidades inviabilizadas por conta das memórias escravocratas que ficaram em nossa sociedade?
As políticas públicas de acesso ao ensino superior e a luta pelo aumento de vagas afirmativas no mercado de trabalho possibilitaram que as novas gerações de pessoas pretas voltassem a sonhar.
E parte deste sonho, que, enquanto homem negro, eu partilho com outras pessoas, é acessar vias que trazem prosperidade, principalmente financeira. Quando penso nisso, logo sou levado ao mundo dos investimentos — algo que não nos foi ensinado e, por isso, ainda hoje provoca um desconforto.
Talvez por isso pouco mais de um terço de brasileiros da classe C investem em produtos financeiros, segundo pesquisa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima); e este número diminui para uma em cada cinco pessoas quando se trata das classes D e E. Como mostra o IBGE no Censo 2022, mais de 50% da população se considera preta e parda, o que equivale dizer que os estratos sociais acima citados são majoritariamente compostos pela população negra.
Em busca da raiz da questão, eu penso: Como as pessoas pretas podem investir em suas próprias iniciativas, possibilitando ascensão social e prosperidade para os seus?
Para isso, precisamos incorporar à lógica dos investimentos uma visão mais ampla, tal qual a dos investimentos de impacto. A Plataforma de Empréstimo Coletivo para Impacto Positivo, da Sitawi, é um exemplo disso.
Por meio dela, organizações de impacto acessam um capital empático, que combina diferentes tipos de capital e a abordagem de blended finance para viabilizar empréstimos a negócios de impacto em condições mais favoráveis. Um deles é a Pappo Consult, organização liderada por pessoas pretas que atua para aumentar a inclusão de profissionais pretos e periféricos no mercado e a emancipação financeira de empresas e empreendedores, sobretudo negócios afrocentrados.
Para além de destravar acesso a capital, também precisamos de mais pessoas que acreditam em uma mudança positiva no mundo. A plataforma chegou para isso: democratizar o investimento de impacto. Hoje, qualquer pessoa pode investir em negócios que geram transformações sociais e ambientais a partir de R$ 10 – e ainda ter rentabilidade acima da Selic.
Sendo assim, convido você, que está lendo este texto, a abraçar um movimento mais consciente sobre o papel do capital e a agir agora em prol da mudança que queremos ver no mundo.
* Em novembro, os editoriais da Estratégia ESG serão escritos exclusivamente por autoras e autores negras e negros. Um símbolo para que ultrapassemos — enquanto sociedade — as fronteiras do mês e tenhamos vozes negras sempre, ativas e ecoantes. Acompanhe conosco!