Biodiesel entre idas e vindas

Biodiesel entre idas e vindas

Na última terça-feira (10) foi celebrado do Dia Internacional do Biodiesel. A data adquiriu importância ainda maior em meio à repercussão do alerta ainda mais enfático dado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) sobre os impactos da atividade humana no clima. Nesse contexto, a Organização das Nações Unidas (ONU) aproveitou para reforçar a defesa do abandono imediato da exploração e produção de novas reservas de combustíveis fósseis, como o carvão mineral e o petróleo.

O Brasil tem uma história de pioneirismo no desenvolvimento e na expansão dos biocombustíveis, aliados na redução das emissões atmosféricas. A escalada dos preços dos derivados do petróleo está sendo seguida de perto pela alta dos preços do etanol, provocada pelos efeitos da seca prolongada sobre a safra da cana de açúcar.

Com isso, além do desinteresse dos consumidores pelo etanol hidratado, vendidos nos postos, já existe quem defenda a redução do percentual de adição de etanol anidro na gasolina, atualmente na faixa de 27%. A justificativa para isso seria reduzir os preços do derivado de petróleo, mas estes seguem no País o Preço de Paridade de Importação (PPI), embasado nas cotações do petróleo tipo Brent e do dólar.

Menos biodiesel no diesel fóssil

Os preços altos também foram a justificativa dada pelo Ministério de Minas e Energia para autorizar a diminuição do percentual de obrigatório do biodiesel no diesel de origem fóssil comercializado no país entre os meses de maio e agosto deste ano. A mistura foi reduzida de 13% para 10%, agradando as distribuidoras e importadores de diesel, mas penalizando os produtores do biocombustível. No leilão deste mês, que vai abastecer o mercado brasileiro nos meses de setembro e outubro, o MME aumentou novamente a adição, mas para 12%.

As idas e vindas do etanol e do biodiesel entre os combustíveis fósseis poderiam ser apenas uma questão mercadológica. Entretanto, além da redução das emissões no setor de transportes, o uso desses biocombustíveis traz outro efeito: a melhoria da qualidade do ar nas grandes cidades e, com isso, a diminuição de mortes e doenças por problemas respiratórios.
Foi o que apontou um estudo publicado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em fevereiro, indicando impacto positivos significativos das políticas de biocombustíveis na saúde humana.

Benefícios para a saúde

Com base em variações alternativas de dados captados em 2018 na região metropolitana de São Paulo, a EPE verificou que uma mistura de 12% de biodiesel evita 277 mortes anualmente. Além disso, faz com que a população deixe de perder dez dias de vida desde o nascimento, em comparação com o cenário em que não há qualquer mistura. Com o percentual de 10%, são evitadas 244 mortes, com aumento de nove dias na expectativa de vida. Já uma elevação da mistura para 15% evitaria 348 mortes por ano, com 13 dias a mais de expectativa de vida.

Diante da tragédia diária que estamos vivendo com a Covid no Brasil, os números parecem pequenos e pouco relevantes. Entretanto, estamos falando de vidas – pode ser a sua, a minha ou de qualquer outra pessoa. E mais: estamos falando da nossa sobrevivência como espécie neste planeta. O IPCC e a ONU, infelizmente, não estão sendo alarmistas. E o Brasil, que sempre foi apontado como exemplo a ser seguido quando se trata de energia limpa e de biocombustíveis, corre o risco de ficar para trás justamente no momento crucial dessa necessária virada de chave.

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