Setembro Amarelo: suicídio e saúde mental nos tempos atuais

Setembro Amarelo: suicídio e saúde mental nos tempos atuais

A campanha Setembro Amarelo foi criada em 2015 como forma de prevenir o suicídio e conscientizar toda a população brasileira sobre a importância do cuidado com a saúde mental.

 

Por Gustavo Santos, da Equipe Alter

A vida tem exigido de todos uma capacidade enorme de adaptação. Os tempos atuais estão marcados por rupturas, inconstância, indefinição e incertezas em todos os âmbitos da vida humana, e ter saúde mental para suportar todas as mudanças e acontecimentos não é uma tarefa fácil.  De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), são registrados cerca de 10 mil suicídios todos os anos no Brasil e mais de 1 milhão no mundo.

A atual predominância de relações sociais, econômicas e de produção frágeis, fugazes e maleáveis levaram o sociólogo polonês Zygmunt Bauman a cunhar a expressão “modernidade líquida”. O termo se refere a realizações individuais que não se solidificam em posses permanentes, mas escorrem pelos dedos como os líquidos. Esta realidade de incertezas tem contribuído para o surgimento de mais casos de suicídio, principalmente entre os jovens.

Fatores como consumismo, uso exagerado de tecnologia, fragilidade das relações, polarização política violenta, preconceito e ignorância com relação à raça, sexo e crença, intensificados pela pandêmia da Covid-19, têm afetado fortemente as pessoas. Nos Estados Unidos, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) revelaram que durante a pandemia as tentativas de suicídio aumentaram 50% entre jovens de 12 a 17 anos, especialmente meninas.

O home office, modelo de trabalho acelerado pela pandemia, também tem afetado a saúde mental e exigido muito de profissionais de diferentes áreas. Entre os principais fatores estão a comunicação permanente por meio de videoconferências e conversas pelo WhatsApp, o medo de perder o emprego e a mistura do ambiente de trabalho junto ao ambiente pessoal. Tudo isso em confinamento, sem aquele cafezinho ou happy hour com os colegas, exige muita adaptação e resiliência.

Com todo esse uso de tecnologias para ser possível o trabalho remoto e a vida social, já existem pesquisas mencionando uma nova síndrome, a “Fadiga do Zoom”.  As pessoas estão se cansando das interações remotas, e a comunicação por vídeo exige mais atenção para perceber sinais não verbais, que seriam mais percebidos pessoalmente.

Campanha Setembro Amarelo

Como forma de prevenir o suicídio e conscientizar toda a população brasileira sobre a importância de cuidar da saúde mental, em 2015, as organizações Centro de Valorização da Vida (CVV), CFM e ABP se uniram para realizar nacionalmente a campanha Setembro Amarelo.  Segundo a CFM, cerca de 96,8% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de substâncias.

A origem do Setembro Amarelo está ligada à história do jovem Mike Emme, que cometeu suicídio em 1994, aos 17 anos, nos Estados Unidos. Mike era muito habilidoso e gostava de automóveis, então restaurou e coloriu de amarelo um Mustang 68. O carro ficou conhecido como “Mustang Mike”. Infelizmente, os pais e amigos de Mike não perceberam os sérios problemas psicológicos e não conseguiram evitar sua morte.

No velório de Mike havia uma cesta com muitos cartões decorados com fitas amarelas com a mensagem “Se você precisar, peça ajuda”. Essa iniciativa gerou um movimento muito importante de prevenção ao suicídio. Os cartões amarelos chegaram realmente às pessoas que precisavam de ajuda.

O Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, 10 de setembro, foi instituído em 2003 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e estimulada em todo o mundo pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP). No Brasil, em 2019, um passo importante para o tema foi a criação da Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio, instituída através da Lei nº 13.819, de 26 de abril de 2019.

O CFM elaborou a “Cartilha Suicídio Informando para Prevenir”, direcionada para médicos, com o intuito de fornecer informações sobre o tema, de forma à ajudá-los a identificar pessoas em risco e prevenir o ato suicída.

Falar é a Melhor Solução

Como vai você? O CVV, uma das ONGs mais antigas do país, fundada em 1962, quer saber. Por isso tem como slogan a frase “Falar é a Melhor Solução”. Para te atender, no número 188, a organização conta com uma rede de apoio com cerca de 4 mil voluntários, em mais de 120 postos, prestando serviço voluntário e gratuito 24 horas por dia, nos 365 dias do ano.

Aos que querem e precisam conversar sobre seus sentimentos, dores e descobertas, dificuldades e alegrias, é só discar e ligar 188. Todas as outras formas de atendimento podem ser conferidas no site www.cvv.org.br, onde também é possível se informar sobre o Posto CVV mais próximo e como se tornar voluntário.

Conheça 5 comportamentos suicidas:

  1. Tristeza excessiva e falta de vontade para estar com outras pessoas
  2. Alteração repentina do comportamento com uso de roupa muito diferente do habitual, por exemplo
  3. Tratar de vários assuntos pendentes ou fazer um testamento
  4. Demonstrar calma ou despreocupação depois de um período de grande tristeza ou depressão
  5. Fazer ameaças de suicídio frequentes

Após a implantação do telefone 188, por meio do Ministério da Saúde, o CVV registra cerca de 3 milhões de atendimentos por ano. Faça parte desse movimento em prol da vida, fique atento aos sinais e compartilhe informações importantes sobre saúde mental com seus familiares e amigos.

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