Em entrevista ao jornal El País, o superintendente geral da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Virgilio Viana, afirmou que parte da Amazônia já chegou a um ponto de não retorno de recuperação. A FAS, cliente da Alter, é uma organização da sociedade civil, fundada em 2008, que desenvolve iniciativas baseadas no princípio da floresta em pé e na melhoria da qualidade de vida das comunidades ribeirinhas.
“Eu diria que já chegamos a um ponto de não retorno para parte da Amazônia. Isso precisa ser dito de uma maneira precisa. Não significa que é o fim dela e que tudo vai virar cerrado. Mas principalmente parte da porção sul de seu território já se tornou uma floresta biologicamente empobrecida”, disse Virgilio Viana.
O ponto de não retorno mencionado por Viana foi um termo cunhado por cientistas e estudiosos para se referir às consequências da emergência climática no mundo. Na Amazônia, a expressão é usada para determinar o momento a partir do qual a floresta não mais conseguirá se recuperar sozinha da devastação provocada pelo homem, e, consequentemente, parte dela —e de sua biodiversidade— pode ser perdida para sempre.
Impacto das chuvas no continente
Os impactos desta catástrofe são sentidos não apenas no Brasil, mas em todo o continente, uma vez que os ciclos de chuva e hidrologia dependem da floresta e de seus rios voadores. Um estudo publicado na revista Nature, por exemplo, apontou que a Amazônia atualmente emite mais gás carbônico do que absorve, um fenômeno recente e preocupante que mostra a degeneração da mata provocado pelo aumento das queimadas e do desmatamento.
Ao contrário do que parece, Viana não é de todo pessimista —ainda que a área da floresta devastada em agosto seja equivalente a seis vezes o tamanho de sua cidade natal, Belo Horizonte. “Veja, não estou falando de um game over. Se você sobrevoar o Amazonas você percebe que existem áreas extensas de floresta protegida ainda. O coração da floresta continua vivo e próspero do ponto de vista ecológico. Mas há uma parte da mata que está decadente, que foi fragmentada em pequenas ilhas florestais”, diz. Nestes locais onde o desmatamento avançou e a floresta virou pasto ou campo de soja, a biodiversidade é menor e as áreas remanescentes se tornam mais suscetíveis às queimadas e secas.
É uma bola de neve: “Populações de árvores menos resistentes ao fogo e ao vento entram em declínio, estas espécies vão desaparecendo, e com elas os pássaros, mamíferos e insetos que faziam parte deste ecossistema”, afirma.