Estamos vivendo o que vem sendo classificado como a revolução de usabilidade e de interações humanas. O metaverso vai permitir que pessoas de diferentes cantos se conheçam, trabalhem e até viajem juntas, em um mundo não físico, no qual os usuários podem interagir por meio de diferentes tecnologias.
Chegamos a um ponto em que “ser” (ter) um avatar é essencial para definir a linguagem que será usada em suas estratégias de comunicação, em quais redes a marca vai se conectar com o seu público e como vai fazer isso. Um mundo em que a tecnologia manda e a humanidade obedece. Será possível caminharmos paralelamente em dois universos, sem nos identificarmos com nossos próprios robôs? Como encontrar os limites nesse lugar em que “tudo pode”?
O ser se constitui a partir do outro. Imagine um bebê chorando. Apenas somos capazes de identificar que precisamos alimentar para que o choro pare, se já passamos por tal experiência. O ser precisa e sempre precisará do outro para se humanizar, e isso nos faz pensar que em relações por avatares há uma inflação do imaginário, que, sem limites, é a própria loucura.
Hoje, para ser gêmeo não é mais preciso passar nove meses dividindo o útero da mãe com outra pessoa. Criamos, escolhemos, e configuramos os nossos gêmeos digitais. Gêmeos que ganham um perfil exclusivo nas redes, desfilam em lugares incríveis com você e que, inclusive, ajudam nas contas da casa com o seu salário – milionário, muitas vezes – recebido por ser um influenciador digital.
Chegamos a um lugar em que o seu produto pode ser maravilhoso, suas ações louváveis e seus valores irretocáveis, mas que de nada adiantam se o seu avatar não for realmente relevante. Uma nova identidade “humana” no mundo digital, em que o DNA se transformou em dados e a inteligência em artificial.
Grandes marcas e artistas no metaverso
Grandes marcas despontaram em suas construções. Exemplo disso é a Lu, do Magalu, primeira influenciadora virtual brasileira, que no lugar da sua “gêmea”, Luiza Trajano, foi capa da Vogue digital neste ano, para inserir o projeto Nordestesse ao seu marketplace, envolvendo 18 marcas nordestinas com produção artesanal e autoral com o propósito de promover o trabalho dos empreendedores dos nove estados da região.
Acompanhando a tendência, diversos artistas estão deixando o seu “real”, para mergulhar nesse “abismo imaginário”, personalizando e promovendo seus “Eus” virtuais, que passam a assumir responsabilidades profissionais e a resgatar suas “lembranças”, criadas e enquadradas em telas com formatos de maçã.
Como ficam as relações humanas?
É claro que seguir as inovações tecnológicas é essencial para as ações de marcas e os relacionamentos de mercado, mas… e as relações humanas? Estamos “desumanizando” o mundo? Obrigando a raça humana a adaptações imperativas? Desligando nossas emoções e desconectando nossas sensações? Será que determinadamente vamos perder um dos maiores bens da humanidade: a capacidade de lembrar e reviver as cenas várias vezes, sentindo o cheiro, a brisa do vento, o solo que pisamos, o calor do sol ou o frio do inverno? Os meus óculos ainda não me permitem reviver tal coisa.
Fecho os meus olhos e me pergunto: Será que nos tornaremos Narcisos, apaixonados pela imagem de nós mesmos, refletidas no espelho?