O baobá (Adansonia digitata), uma das árvores mais emblemáticas do mundo, é símbolo de resistência e conexão. Com troncos que chegam a sete metros de circunferência e alturas de até 40 metros, ele domina as paisagens de várias regiões da África e partes da Austrália. Chamado de “árvore da vida” em muitos cantos do continente africano, o baobá é fonte de sustento, sabedoria e tradição para diversos povos. No Brasil, suas sementes, a múcua, ricas em vitamina C e minerais essenciais, conectam culturas e nutrem histórias, principalmente no Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, onde é conhecido como imbondeiro, embondeiro ou calabaceira.
Mais que uma árvore, o baobá é um símbolo ancestral. Ele carrega o legado de povos africanos que, há milênios, compreendem a importância da sustentabilidade e da preservação. Este símbolo, que atravessou oceanos no período escravocrata, permanece como elo entre culturas afrodiaspóricas nas Américas. E foi inspirado nessa força simbólica que, em novembro de 2024, nasceu oficialmente o Baobalter — o coletivo negro da Alter Conteúdo Relevante.
Um coletivo que frutifica
Idealizado pelo designer Rodrigo Cipriano, o Baobalter é mais que um coletivo: é um movimento. Reúne profissionais negros (pretos e pardos) que atuam em diferentes frentes da agência, da Comunicação ao Administrativo-Financeiro, passando por posições estratégicas e de liderança. Com três pilares fundamentais — empoderamento, letramento racial e acolhimento —, o grupo tem a missão de engajar a Alter e o setor de Comunicação Corporativa na luta contra o racismo estrutural, promovendo mudanças concretas e acelerando carreiras.
“O Baobalter nasce como as sementes de múcua: agrupado e potente, com o objetivo de nutrir transformações no setor e fomentar práticas de inclusão efetivas para a população negra”, explica Cipriano.
Desafios de um setor desigual
Embora o Brasil tenha uma população majoritariamente negra (55,5%), a realidade do mercado de Comunicação Corporativa está longe de refletir essa representatividade. Dados do Anuário da Comunicação Corporativa 2024, com base na pesquisa da Mega Brasil e do Instituto CORDA, revelam que mulheres e homens brancos dominam o setor, representando 71,3% dos profissionais. Já as mulheres e os homens negros somam apenas 26%, com participações individuais que não chegam a dois dígitos.
Ainda mais preocupante é a ausência de políticas afirmativas no setor. Apenas 33% das agências entrevistadas afirmaram implementar ações para promover a inclusão racial. A maioria (67%) admitiu não adotar qualquer prática nesse sentido.
Para o Baobalter, esses números evidenciam a urgência de ações concretas. “A comunicação é o coração das mudanças sociais. Nosso papel é criar narrativas que promovam não só diversidade, mas equidade e reparação histórica”, afirma o coletivo.
Caminhos para transformação
O Baobalter surge como um marco e um compromisso. Sua atuação vai além de reconhecer desigualdades: busca enfrentá-las, capacitando e empoderando profissionais negros dentro e fora da Alter. Letramento racial, programas de desenvolvimento pessoal e estratégias de aceleração de carreira são algumas das iniciativas previstas.
“Queremos inspirar o setor a romper com o status quo. É necessário que a Comunicação Corporativa no Brasil reconheça o seu papel estratégico na inclusão e represente, de fato, a pluralidade do país”, conclui Cipriano.
A jornada do Baobalter é coletiva, assim como o baobá é uma árvore que conecta. Com raízes profundas e galhos que se estendem em várias direções, o coletivo se compromete a fortalecer o futuro da comunicação brasileira, transformando desafios em sementes de mudança.