Pornochanchada na Netflix? Sim, mas em forma de documentário. Pelas mãos da diretora Fernanda Pessoa, esse gênero de cinema desprezado e ao mesmo tempo tão presente no imaginário popular dá os recursos para entendermos alguns aspectos do Brasil nos anos de 1970. “Histórias que nosso cinema (não) contava” já traz no título uma referência a uma das obras de estrondoso sucesso na época, “Histórias que nossas babás não contavam”, um dos 28 filmes utilizados para a edição ‘recorta e cola’ disponível no streaming.
Sem legendas ou explicações em off, o espectador assiste, por 80 minutos, uma mistura de cenas como deboche sobre a modernização do país; a agressividade como fetiche (em relação às mulheres); diálogos contra a ditadura; dramas do êxodo rural; e a constante objetificação da mulher, tudo com muita nudez e o tempero carregado que o gênero exigia (e que garantia salas cheias).
Impagável a cena do personagem de Paulo Cesar Peréio explicando seu novo empreendimento, a Urinol Company. Infelizmente, nem tudo é em tom de crítica: muitas vezes, trata-se de um espelho bem nítido de como era (ou é) o modo de pensar de parte dos brasileiros, refletido em enredos que normalizam o machismo e a violência.
Dica enviada por Bete Nogueira.