23 de junho de 2023 | ESG, Impacto social, , , , ,

O que Justiça Social tem a ver com meu negócio?

Por Matheus Zanon

Por Matheus Zanon, da Equipe Alter

O Brasil é o 8º país mais desigual do mundo. O dado não trata de pobreza, visto que o país é a 12ª economia do mundo. A triste posição ocupada no ranking da desigualdade revela um tema que, por muitos anos, passou longe das salas dos CEOs: justiça social. Mas, uma iniciativa pioneira do Sistema B promete mudar essa realidade.

Na publicação “Justiça Social com a Rede B Brasil”, o Sistema B aponta a necessidade do engajamento empresarial no reconhecimento dos privilégios da branquitude e a urgência em combater a histórica injustiça social, gerada pelo racismo, e seus impactos na renda, empregabilidade, educação, segurança, moradia e saúde de milhões de brasileiros negros. 

A partir de um processo de escuta, nominado “Conversando a gente se aprende”, a organização reuniu empresas credenciadas e empreendedores pretos e periféricos para construir um plano de ação para combater as desigualdades econômicas geradas pelo racismo, começando pela própria instituição.

Para isso, foram elencadas quatro frentes que nortearão o Movimento no desenvolvimento de estratégias e políticas nos próximos: representatividade interna nas empresas, escuta e aprendizados de empresários negros e periféricos, construção de pontes e geração de negócios dentro da Rede B. Para além de diretrizes internas, os compromissos são um guia norteador importante para as empresas.

Confira e veja como as orientações do Sistema B podem auxiliar a sua empresa a atuar na justiça social pautada em raça.

Não basta não ser racista, é preciso ser anti-racista

O Movimento B defende a prática do anti-racismo e a necessidade de avançar em números de pessoas negras contratadas nas Empresas B em lugares de liderança. Afinal, segundo o CEER, pessoas negras ocupam apenas 4,7% de cargos de liderança das 500 maiores empresas do país.

Para isso, é fundamental engajar as lideranças e os funcionários sobre a importância da justiça social pautada em raça, na promoção do letramento racial e práticas inclusivas de recursos humanos. 

“O conceito de justiça social pressupõe a ideia de que o desenvolvimento social para todas as pessoas só será possível após o reconhecimento de que nem todas as pessoas têm as mesmas oportunidades”, reconhece o Movimento na publicação. Entender que a raça – e o racismo – é o principal fator para a exclusão de oportunidades é o primeiro passo para promover a justiça social.

As periferias são potentes

A inovação social, tecnologias e o capital intelectual das periferias foram reconhecidos pelo Movimento como fundamentais na busca de soluções. “Enquanto não olharmos como potência para quem, historicamente, teve usurpada a força de trabalho braçal e intelectual e deixado à margem do desenvolvimento socioeconômico, não teremos transparência e compromisso real com a justiça social”, afirmam Lygia Anthero, coordenadora de Causas Coletivas do Sistema B Brasil, e Rodrigo Santini, diretor executivo da organização.

AIdentificar e estimular essa potência são ferramentas para sair do olhar assistencialista e reconhecer as periferias como agentes que podem contribuir para o bem comum.

Decolonizar os negócios para construir pontes

Os pilares que regem as sociedades ocidentais partem de um olhar nascido no norte global, em bases eurocentradas, que ignora os saberes de outras culturas, incluindo a brasileira. Para o Movimento B é preciso promover uma conexão de saberes, trazendo para a realidade do país nomenclaturas, códigos e conceitos desenvolvidos no norte global.  Essa falta de “tropicalização” causa, segundo a organização, “um grande distanciamento entre o Movimento B e as empresas lideradas por pessoas negras e periféricas”.

“Para construirmos pontes mais sólidas e mais humanizadas, precisamos dialogar a partir de uma convergência de linguagens, negócios, conexão de saberes, cultura, de acesso a capital, entre outros. Aqui, vemos a grande oportunidade do Sistema B ser e promover essas pontes, conectando cosmovisões e narrativas que podem avançar conjuntamente a favor de uma transformação social e econômica em nosso país”, explica na publicação.

Trazendo para uma reflexão, talvez rasa no contexto, mas que é fundamental para entender as bases dessa “tropicalização”, é a velha discussão sobre os anglicismos: por que insistimos em falar squad e meeting quando podemos falar time e reunião. É um exemplo simples de exclusão, pois o uso de outro idioma afasta pessoas que não o entendem. É preciso valorizar os saberes locais, que podem subsidiar e direcionar os negócios em sua jornada rumo ao sucesso. 

Em um apontamento mais aprofundado, um exemplo é a sensibilização do sistema financeiro para a diferença entre endividado e negativado, fatores que dificultam o acesso ao capital. Um aperto financeiro, que pode levar ao negativamento de um nome junto aos órgãos de crédito, não significa incapacidade de adimplência. Ou seja, é preciso analisar muito mais do que apenas “um nome sujo”. 

Não pode existir mais ‘nós e eles’

Olhar para a cadeia de fornecedores, de forma a priorizar a geração de negócios para as periferias é a outra forma de atuação pela justiça social. Por isso o Sistema B busca um compromisso do mercado com a geração de valor mútuo para a periferia, devolvendo valor e benefícios para a sociedade.

“A colaboração aqui se dá de uma maneira circular e integrada onde não exista mais o ‘nós e eles’. Vamos unir cada vez mais propósito e lucro com vieses mais plurais. (…) Investir na periferia é também comprar e contratar empreendedores da periferia. Por isso nossos esforços estarão em gerar oportunidades para que esses fornecedores sejam priorizados, sempre que possível, retornando o capital para o desenvolvimento socioeconômico da comunidade local”, defende.

Por: Matheus Zanon