10 de novembro de 2023 | Cidadania, Clima, Cultura, Destaque, ESG, Impacto social, , , , , , , , , ,

Mês do orgulho ou da paciência negra?

Por Carolina Wanderley

Chegou o mês da paciência negra, como costumamos chamar novembro na comunidade negra. Durante esses 30 dias, somos convidados a falar sobre os mais diversos assuntos envolvendo a temática racial. Engraçado que, nos outros 11 meses do ano, parecem esquecer da importância da representatividade e nos excluem dos debates, inclusive em relação a assuntos em que os mais impactados somos nós. Recentemente, assisti a uma série de palestras sobre mudanças climáticas, realizada por um player relevante e, surpreendendo absolutamente ninguém, não havia nenhuma pessoa negra compondo as mesas. Mas, como não trazer nossos representantes para o centro da discussão de algo em que somos os mais afetados? Realmente, só com muita paciência.

Inversamente proporcional a nossa presença em eventos como o que mencionei acima, é o n° de negres impactados pelos fenômenos climáticos que vêm assolando o mundo. O racismo, além de nos excluir desses espaços, nos mata em enchentes, deslizamentos de terra, de frio e de calor.

Falando especificamente sobre a questão no Brasil, o racismo ambiental está diretamente relacionado ao passado colonialista e escravocrata, que nos obrigou a ocupar periferias com pouca – ou nenhuma – infraestrutura. O poder público, por sua vez, ajuda a agravar a situação ao ignorar a necessidade de realizar políticas públicas eficazes para sanar a questão, preferindo, a cada temporal, culpar São Pedro pelo mau clima.

“Mas, Carolina, em tragédias ‘naturais’ todos são afetados, independentemente da raça”. Não é o que dizem os fatos. Em um dos maiores desastres ambientais da história do país, o rompimento da barragem da empresa de mineração Samarco, em Mariana (MG), 84,5% das vítimas imediatas eram negras. Até em estados em que não somos maioria numérica, como São Paulo, em que pessoas negras representam 33% da população, também estamos entre os que vivem em áreas de maior risco (55% dos habitantes), logo, mais vulneráveis. 

Estamos cansados dessas “coincidências”. Não aguentamos mais ver rostos e corpos como os nossos estampando matérias relacionadas a mortes em decorrência de eventos climáticos severos. Parte da solução passa pela inclusão. Queremos ser ouvidos e ocupar espaços de tomada de decisão que também são nossos e nos são negados há tanto tempo. Estamos aqui disponíveis para o debate o ano todo e não apenas em novembro. Haja paciência!

Por Carolina Wanderley, Produtora de Conteúdo da Alter

Por: Carolina Wanderley