Mulher desafiando conceitos tradicionais de identidade de gênero e redefinindo sua existência

Quando você para pra pensar na sua história, olha pra trás e analisa a sua trajetória como um ser social, você consegue identificar o momento exato em que você se tornou mulher?

Acho que muitas mulheres cis podem responder que se tornaram mulher assim que nasceram, no momento em que o seu sexo biológico foi confirmado. Da mesma forma, muitas mulheres trans também podem identificar no nascimento o momento que as definiu como mulher, uma vez que ser mulher é uma construção sociocultural, e o sexo biológico não significa absolutamente nada.

Mas o meu ponto aqui é fazer você ir um pouco além e pensar na construção da sua identidade de gênero como um longo processo, que vem sendo construído muito antes de você pensar em nascer.

Desde que o mundo é mundo, o ser humano atribui sentido e função pra qualquer coisa. Pode parecer um pouco vago, mas a real é que nem tudo que existe simplesmente brotou do nada, já predestinado a ser o que é. A todo instante estamos disputando o significado das coisas, por querer ter razão. Por querer que a nossa própria concepção faça sentido também para outras pessoas. Em menor ou maior grau, essa é uma forma de dominação.

O papel da mulher na sociedade vem sendo construído seguindo essa lógica. Em uma eterna disputa, nos foi designada uma posição subalterna diante dos homens. E aqui eu preciso fazer uma distinção entre homens cis e trans, brancos e não-brancos – há uma disparidade de poder.

Cada afirmação que restringe e diminui a atuação das mulheres na sociedade reforça uma concepção completamente inventada. Não, mulheres não são necessariamente mais sensíveis. Não, mulheres possuem plena noção de espaço. Não, mulheres têm – e muita – resistência e força física. Qualquer coisa que contrarie isso, foi completamente inventada.

E, da mesma forma que foi inventada, pode ser desinventada. É o que a gente vem fazendo: ressignificando cada afirmação que fere a nossa existência.

Durante todo o mês de março, os editoriais da Estratégia ESG serão escritos exclusivamente por mulheres que compõem a equipe da Alter Conteúdo e convidadas. Mais do que uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher, nosso objetivo é trazer reflexões variadas sobre a construção do feminino e suas implicações no dia a dia das mulheres.

Por: Lia Ribeiro