Quando estudamos o desenvolvimento da agricultura na história, as mulheres eram as grandes lavradoras da terra. Lá nos povos originários, aprendemos que os homens indígenas saíam para caçar e quem semeava, cuidava do roçado e da alimentação da família eram as mulheres.
Também estudamos que coube às mulheres quilombolas cuidar da semeadura. Essas grandes cultivadoras são até hoje responsáveis pela preservação de muitas das chamadas sementes crioulas de milho, feijão e outros grãos.
Com a expansão da comercialização dos alimentos, os homens foram produzir e negociar. E as mulheres, empurradas para a cozinha.
Mas a semente já tinha sido plantada pelas nossas antepassadas. E a mulher nunca deixou de cultivar.
Venho de uma família de agricultores há cinco gerações, homens e mulheres, imigrantes italianos, que vivem da agricultura. Responsáveis pelo que vai à mesa e seguras da seriedade do seu trabalho, as mulheres da família administravam hortas extensas, galinheiros altamente produtivos e aproveitavam tudo que era proteína animal, do leite aos miúdos suínos. Parte para alimentar a família e o excedente para vender.
Uma segunda fonte de renda que, silenciosamente, foi formando a segunda geração de mulheres dedicadas à agricultura. Muitas foram para os bancos escolares e as universidades de ciências agrárias. Se lá na década de 1950 as mulheres eram minoria, hoje o quadro se inverte. Elas se espalharam e são grandes administradoras e gestoras do agronegócio.
Para quem acompanha essa mudança, não é surpresa que um evento de mulheres líderes do agro em São Paulo reúna mais de três mil delas. Tampouco espanta-se que nos grandes debates legislativos do setor e meio ambiente haja prevalência das mulheres.
Claro que, a exemplo do restante da sociedade, a tomada de decisões ainda esteja concentrada em mãos masculinas. Contudo, vejo com otimismo essa rápida ascensão e ascendência das mulheres na produção de alimentos e energia.
Só pode produzir boas notícias, considerando que as sementes plantadas lá atrás permanecem as melhores.
Euzi Dognani é jornalista, especialista em agricultura e relações governamentais. Também é produtora rural.
* Durante todo o mês de março, os editoriais da Estratégia ESG serão escritos exclusivamente por mulheres que compõem a equipe da Alter Conteúdo e convidadas. Mais do que uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher, nosso objetivo é trazer reflexões variadas sobre a construção do feminino e suas implicações no dia a dia das mulheres.