Além de investir em energias renováveis e não poluentes, é preciso começar a pensar os centros urbanos de forma sustentável. A tragédia climática do Rio Grande do Sul tem levado muitas pessoas a pesquisarem sobre o conceito de cidade-esponja, criado pelo arquiteto, urbanista e paisagista chinês Kongjian Yu, que já desenvolveu o projeto em mais de 70 cidades. ‘O conceito de cidade-esponja é baseado no princípio de que a natureza regula a água’, diz.
Em entrevista à BBC, Yu disse que ‘precisamos parar de lutar contra a água’ e apostar em soluções duradouras e sustentáveis, como a construção de áreas verdes urbanas capazes de absorver, reter e liberar a água da chuva de forma que ela retorne ao ciclo natural. O investimento na criação de áreas ‘alagáveis’, que absorvem a água, pode reduzir o impacto das enchentes de forma significativa, além de melhorar a qualidade do ar.
Para que as cidades-esponja funcionem, Yu se baseia em três estratégias: contenção da água, redução da velocidade do fluxo da água e escoamento e absorção. Para que o ciclo funcione, é necessário diminuir áreas de concreto e substituí-las por áreas verdes, como ‘jardins de chuva’ – que armazenam o excesso de chuva em tanques subterrâneos e túneis, escoando só depois de os níveis diminuírem –, plantio de vegetação que absorve a água, telhados verdes, etc..
Enquanto lia sobre as cidades-esponja, me lembrei do programa ‘Niterói Jovem EcoSocial’, implementado em 2019 no município fluminense em parceria com a Firjan, com o intuito de promover a inclusão de jovens em situação de vulnerabilidade social. Embora o conceito seja bem diferente, os alunos – jovens de 16 a 24 anos que moram nas comunidades da cidade –, atuam em ações como o reflorestamento de áreas de encosta, a manutenção de recursos hídricos, ações preventivas de queimadas, produção de hortas comunitárias, além de receberem capacitação técnica profissionalizante, criando consciência e cultura de preservação ambiental. Mais de 900 jovens já participaram do projeto, e milhares de árvores já foram plantadas na cidade. Além disso, Niterói está investindo no Programa ‘Agroecologia na Favela’, incentivando a produção agroecológica nas comunidades.
No Brasil, ainda não temos uma cidade-esponja, embora algumas cidades estejam investindo em ‘jardins de chuva’. Mas podemos pensar em construir cidades-esponja pelo país inspiradas em iniciativas como as de Niterói, município com pouco mais de 500 mil habitantes, que vem mostrando que não só é possível, mas também é fundamental trabalhar a sustentabilidade urbana com inclusão social.