3 de junho de 2024 | Estratégia ESG, , ,

Lá vem o ‘orgulho hétero’… 

Por Alexandre Gaspari

Junho começou. Chegamos ao meio do ano. E tão certo quanto as festas juninas – que já não cabem mais em 30 dias e se estendem até agosto – é o ressurgimento do ‘orgulho hétero’. Já virou tradição. Histriônica, chata, que cria arenas de batalha principalmente nas redes sociais, criadas por gente ignorante e alimentadas por perfis de existência duvidosa – mais precisamente, bots.

Isso porque junho é também o mês do orgulho LGBTQIAPN+. Tudo começou em 28 de junho de 1969. Após mais uma batida policial violenta e discriminatória, frequentadores e frequentadoras do bar Stonewall Inn, em Nova York, resolveram dar um ‘basta’. Em vez da costumeira resignação diante da humilhação e violência dos ‘canas’, gays, lésbicas e travestis resolveram resistir e protestar pelas ruas da cidade durante dias.

revolta de Stonewall se tornou um marco na luta da população LGBTI+ pelo simples direito de ser quem se é. Uma mensagem que se espalhou pelo mundo e se converteu na organização de movimentos reivindicatórios de equidade e também de despatologização das sexualidades diferentes da heterossexualidade.

Assim, o que era um dia – 28 de junho – foi se ampliando, ampliando e se tornou um mês inteiro de luta pela equidade de direitos. As paradas LGBTI+ são o marco mais visível dessa mobilização. No entanto, são apenas a ‘ponta do iceberg’.

Por trás da festa e da alegria desses momentos nas ruas há reivindicação, há busca por respeito, há conscientização. Há o resgate permanente do orgulho de se ser quem se é, já que durante tanto tempo ter uma sexualidade diferente foi motivo de exclusão, humilhação, desumanização. E infelizmente ainda é. Daí a necessidade de se reafirmar esse orgulho permanentemente.

O orgulho LGBTI+ é na verdade o resgate de uma autoestima básica que foi tirada à força. Não se trata de ser ‘mais’. Trata-se apenas de ser. Quando digo que tenho orgulho de ser gay, digo que sou uma pessoa como qualquer outra e que não posso ser desumanizado por ser gay, como ocorria (e ainda ocorre). Que mereço respeito como qualquer outra pessoa. Que minha autoestima não vai mais ser apedrejada pelo fato de eu não ser heterossexual. Esse é o nosso orgulho.

No entanto, para alguns heterossexuais – ‘coincidentemente’, em sua grande maioria homens brancos –, é preciso ‘contrapor’ o orgulho LGBTI+. Acionam ideias estapafúrdias para justificar a resistência à ‘promoção da homossexualidade’, como avaliam ser nossa mobilização. E daí tiram da cartola… o ‘orgulho hétero’.

Aos defensores desse tal ‘orgulho hétero’, pergunto: quando vocês foram humilhados na escola por serem heterossexuais? Humilhados e violentados em família? Expulsos de casa? Deixaram de conseguir um emprego? Tiveram de ‘moldar’ seu comportamento para não ‘parecerem’ héteros e assim manterem seu emprego? Não puderam se casar? Foram impedidos de adotar uma criança por serem héteros? Não tiveram direito a pensão de algum/a companheiro/a por isso?

É repetitivo. É cansativo. E similar ao que ocorre em março, no mês das mulheres; em abril, no mês dos povos indígenas; e em novembro, no mês da consciência negra. Quando tradicionalmente aparecem os brados de que ‘homens e mulheres são iguais’; ‘brancos e indígenas são iguais’; e ‘brancos e pretos são iguais’. Só que não…

Como em junho, esses brados são puxados em sua maioria por homens. Brancos. Heterossexuais. Que desde que ‘o mundo é mundo’ só ganham. Só mandam. Só violentam. E nada querem ceder.

Mas vamos resistir. E com orgulho. De verdade!

Por: Alexandre Gaspari