Composta em 1973, a canção ‘Fala’, do grupo Secos e Molhados, traz uma mensagem universal, forte e atemporal: ‘Então, eu escuto!’ Mais importante do que ter algo para dizer, é ter capacidade para escutar. Requer a vontade de prestar atenção, tentar entender o que está sendo dito, refletir e, após assimilar o conteúdo, formar uma opinião. No entanto, parece que estamos cada vez mais perdendo essa capacidade.
O apelo da canção à expressão e à compreensão mútua destaca uma dificuldade de diálogo que permanece atual. Na época, o Brasil vivia sob uma ditadura militar, um país onde a liberdade de expressão era restritiva. Mais de 50 anos depois, superamos a ditadura, mas a mensagem ainda ressoa forte, especialmente em um ano de eleições municipais e em um regime democrático.
Seria ideal que as bases para a tomada de decisões fossem construídas a partir de muita escuta e debate. No entanto, será possível no contexto atual, marcado por um maniqueísmo exacerbado?
Precisamos urgentemente de lideranças políticas que sejam capazes de escutar e reconhecer as diferentes vozes. Capazes de ouvir e assimilar o alerta da Organização Meteorológica Mundial (OMM) que aponta 80% de probabilidade de que a temperatura média global anual do planeta exceda temporariamente em 1,5°C os níveis pré-industriais durante pelo menos um dos próximos cinco anos.
Ouvir as demandas do setor privado e da sociedade civil pela implementação do mercado de carbono; por mais eficiência e otimização na alocação de recursos públicos nas áreas de saúde, educação e segurança; por transparência nas políticas públicas e responsabilização de gestores; por mais incentivo à inovação e tecnologia, como o Programa Mover, que vai estimular a descarbonização da frota veicular nacional; e por mais agilidade do Judiciário, entre outras.
Parafraseando a escritora Djamila Ribeiro, sobretudo aqueles que sempre foram autorizados a falar podem aprender a se colocar em um lugar de escuta. Muito além de uma comunicação que simplesmente transmite informações, a escuta ativa tem o poder de criar conexões, estabelecer vínculos e gerar engajamento com diferentes públicos.
Em tempos em que a atenção é escassa, saber escutar pode também se tornar um diferencial competitivo!
Bom fim de semana!
(*) Eduardo Nunes é parceiro da Alter Conteúdo