17 de junho de 2024 | Estratégia ESG, , , , , ,

Incluir, diversificar e ganhar

Por Alexandre Gaspari

Um estudo recente da To.gather, startup de dados de diversidade, mostra um dado preocupante: a maior parte das empresas brasileiras não dispõe de área ou liderança dedicadas exclusivamente para criar e gerir políticas de diversidade e inclusão (D&I). Em apenas 22,1% das 289 companhias de 20 segmentos do mercado mapeadas pelo levantamento as políticas de D&I são tratadas com dedicação exclusiva. Em 60,9% delas a pauta é encaminhada ao setor de Recursos Humanos (RH), em meio a outras demandas, mostra o Estadão.

Um sintoma dessa lacuna são os números da participação de adultos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no mercado de trabalho. Como destaca O Dia, embora sua inserção no ambiente corporativo seja garantida por lei, cerca de 85% dos profissionais com autismo continuam fora do mercado de trabalho, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Com 23 anos, Augusto Menaguali Lima Costa conta que descobrir ser autista foi um alívio. “Até pra eu poder entender o motivo de ser diferente e ter dificuldades para aprender as atividades na escola. Por onde passei, nunca houve inclusão de fato. Eu precisava de todo material adaptado para ter o maior aprendizado e era uma luta constante”, conta.

O autoconhecimento, porém, não se traduziu em oportunidades profissionais. Augusto diz que alguns empregadores têm uma reação inicial amistosa frente ao diagnóstico, mas que raramente é selecionado para as vagas. Por isso ele afirma, com total propriedade, que poucos espaços são verdadeiramente inclusivos. E reivindica uma necessidade urgente de melhorias, bem como adaptações como a modificação das tarefas, supervisão direta, carga horária adaptada e acolhimento do entorno.

“Acho que existe muito boa vontade, mas falta realmente a prática de inserção”, pontua o jovem.

Poderíamos ver os dados e a reivindicação de Augusto pelo lado ‘meio vazio’ do copo. Como analisa a CEO da To.gather, Erica Vaz, a ausência de áreas de D&I nas corporações é um sinal negativo para o avanço da pauta no mercado. E mostra que as políticas de governança voltadas para a diversidade nas empresas podem não estar encontrando um elo entre o planejamento teórico e a prática.

Mas há a perspectiva do copo ‘meio cheio’: uma imensa oportunidade a caminho, como indica Erica: ‘Quando uma empresa está investindo em diversidade, há a vantagem de ter uma pessoa dedicada, que vai respirar a diversidade quase 100% do seu tempo e vai também saber direcionar melhor as ações’. É o que Augusto espera. E precisa.

As pessoas ditas ‘diferentes’, sejam elas PCDs, LGBTI+ ou outras categorias sociais minorizadas não são nem melhores, nem piores. São apenas ‘diferentes’ de alguns padrões socialmente e medicamente estabelecidos.

Não querem ‘privilégios’, como algumas falas equivocadas tentam falsamente argumentar. Querem apenas a mesmíssima chance que as pessoas ‘não-diferentes’ têm, pessoas essas que também têm suas potencialidades, mas também têm limitações.

Ninguém é bom em tudo e isso é algo óbvio e salutar para formarmos uma sociedade diversa, na qual todos ganhem. Inclusive empresas que deem a devida atenção a diversidade, equidade e inclusão. A oportunidade está aí.

Por: Alexandre Gaspari