Desde o início de junho, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) disponibilizou para consulta pública a minuta e a exposição de motivos para a resolução que trata da classificação de planos de seguros e de previdência complementar aberta como ‘sustentáveis’. Ou seja, que cobrem riscos relacionados à crise do clima e do meio ambiente e que fornecem benefícios climáticos, ambientais e sociais. Essa é uma etapa essencial para garantir transparência e credibilidade às divulgações das empresas, crucial em um cenário onde a assertividade nas informações é cada vez mais demandada pelos investidores.
A exposição das fraudes na diretoria de relações com investidores das Americanas, que voltaram às manchetes ontem, sublinha a importância de divulgações claras e objetivas. No contexto das seguradoras, a nova norma da Susep busca não só regular a formulação de produtos de seguro, mas também garantir que o fluxo de capital financeiro das seguradoras esteja alinhado com práticas sustentáveis. A iniciativa visa minimizar o risco de greenwashing, uma preocupação crescente entre investidores e reguladores.
A iniciativa está alinhada também ao Plano de Ação da Taxonomia brasileira, que foi apresentado pelo Ministério da Fazenda na COP28, em Dubai, em 2023, e visa criar uma terminologia comum às empresas, instituições financeiras, investidores, reguladores, governos e outras partes interessadas, direcionando decisões de investimento e criação de políticas públicas.
A EY promoveu o estudo Global Reporting and Institutional Investor Survey. E 99% dos participantes da pesquisa – entre 1.040 líderes financeiros sêniores nas empresas que divulgam relatórios e 320 investidores institucionais que consultam essas publicações – utilizam as divulgações ESG como norte de suas decisões de investimento. Esses investidores apontam os relatórios corporativos eficazes como chave para construir alinhamento e compreensão.
O problema é que a confiança nesses relatórios anda meio em baixa. Pesquisa Global com Investidores 2023, da PwC, revelou que 98% dos investidores brasileiros (94% no mundo) acreditam que os relatórios corporativos têm greenwashing. Eles apontam que uma avaliação externa aumentaria a confiança nessas divulgações.
Esse resultado também pode ser, em parte, reflexo do caso Americanas. Nesse sentido, a implementação de critérios técnicos e científicos para a classificação de produtos sustentáveis, em todos os setores da economia, é chave. Assim como no caso das Americanas, onde a falta de transparência gerou sérias consequências, a clareza e a objetividade nas divulgações ESG são fundamentais para construir confiança e alinhamento com os investidores.
Bom fim de semana!
(*) Eduardo Nunes é parceiro da Alter Conteúdo