Um grupo de 1.029 empresas foram cobradas por 276 investidores globais com US$ 21 trilhões em ativos a melhorarem a divulgação de seus riscos relacionados à água. A informação foi divulgada na semana passada pela Campanha de Não-Divulgação (NDC, na sigla em inglês) do Carbon Disclosure Project (CDP), organização sem fins lucrativos que administra o sistema global mais utilizado para divulgação de riscos ambientais nas organizações.
O número de empresas é um recorde e representa um salto de 122% em relação às solicitações da pesquisa realizada no ano passado. Entre as solicitadas estão Apple, Amazon, Nokia e Roku, cuja uso da água está associado ao alto consumo em data centers e na fabricação de chips.
As mais de 100 instituições financeiras que solicitaram dados relacionados à água na NDC deste ano mostram uma conscientização crescente dos potenciais riscos financeiros, sociais e de reputação associados à água.
Para se ter uma ideia, do total de 4.815 empresas que divulgaram informações sobre água ao CDP em 2023, uma parcela de 30% disse ter metas relacionadas a poluição, saneamento e higiene. Nesse mesmo grupo, 44% identificaram riscos inerentes relacionados à água que potencialmente representaram impacto financeiro ou estratégico substancial para o negócio.
Enquanto isso, no Brasil, reportagem da agência Pública informa que um grupo de 44 empresas que mais captam água em suas operações pagaram R$ 0,05 para cada 10 mil litros em 2022. A distorção se deve a uma série de falhas na cobrança pelo uso da água, prevista na Política Nacional de Recursos Hídricos.
Ao cobrar das empresas informações sobre o risco relacionado à água, os investidores buscam mensurar a pegada hídrica dos bens e serviços que financiam para garantir que ela é justa e sustentável. Isso significa poluição zero, retirada sustentável, saneamento e higiene, entre outros requisitos. Ao ser criado há exatos 4 anos, o Marco Legal do Saneamento estabeleceu como objetivo a universalização dos serviços de água e saneamento no país até 2033.
A facilitação da entrada de operadoras privadas como forma de viabilizar os investimentos necessários para a universalização é importante. Por outro lado, também é fundamental que os setores econômicos intensivos no uso do insumo também façam a sua parte.
* Gilberto Lima é produtor de conteúdo, dono da Agência Celacanto, especializado em clima e finanças sustentáveis, e parceiro da Alter Conteúdo