11 de julho de 2024 | Estratégia ESG, , , , ,

Alerta de gatilho

Por Maíra Santafé

Não precisamos estar em março para falar sobre misoginia. Todos os dias presenciamos, no mundo virtual ou presencial, violências contra as mulheres. E incontáveis vezes o gatilho é inevitável. Não conheço uma mulher adulta que não tenha passado por alguma agressão física, verbal ou psicológica em algum momento da vida só por ser mulher. A maioria nunca denunciou, principalmente pelo medo de serem culpabilizadas pela violência sofrida. 

Têm circulado nas redes sociais vários vídeos nos quais mulheres são humilhadas por seus parceiros e pessoas próximas, que acham a situação engraçada. Num deles um casal recém-casado, de mãos dadas, vai em direção à piscina e, na hora de pular, ele solta a mão dela propositalmente, e ela cai sozinha na água, vestida de noiva. Risos gerais. A postagem viralizou na internet, banalizando a situação de violência e de desrespeito.

Num outro video, o futuro pai pula de alegria rindo e abraçado aos amigos, todos homens, ao saber que seu bebê é do sexo masculino. Já a esposa gestante é colocada à margem pelos machões, como se não existisse.   

Quantas vezes nós, mulheres, já ouvimos ‘gracinhas’ de colegas de trabalho e até de amigos – muitas vezes comprometidos com outras mulheres –,  independentemente de estarmos ou não em uma relação? Quantas vezes o ‘paquerador’ é seu próprio companheiro, que não perde uma oportunidade de ‘jogar charme’ para mulheres, presencial ou virtualmente? Quantas vezes fomos aconselhadas a ‘deixar isso pra lá’ porque ‘é besteira’, porque ‘homem é assim mesmo’? Quantas vezes fomos chamadas de ‘loucas’ por nos sentirmos  incomodadas com tamanha falta de respeito?

Quando falamos de violência contra mulheres, as pessoas pensam em agressões físicas ou sexuais, mas esquecem as várias violências que sofremos cotidianamente. Desde ‘brincadeirinhas’ até a falta de respeito das quais somos alvo só por sermos mulheres.

A violência psicológica é, talvez, a mais comum: humilhação, ameaças, assédio, constrangimento, manipulação, isolamento, insultos, chantagem, ridicularização etc.. Quantas vezes homens já distorceram ou omitiram fatos, para deixar a mulher vítima em dúvida sobre sua memória e sanidade? O gaslighting é uma prática presente em muitas relações, em vários níveis.

Enquanto isso, mulheres adoecem emocionalmente e fisicamente, tentando se equilibrar entre  tantas pressões, cobranças e atitudes  absurdas de uma sociedade preconceituosa e machista.  

‘Olha a roupa que ela usou, estava pedindo para ser assediada’; ‘mulher que transa no primeiro encontro não serve para se relacionar’; ‘solteira nessa idade? Algum problema tem’; ‘se não tiver filhos, nunca se sentirá completa’; ‘lésbica? Porque não conheceu um homem de verdade’; ‘dirige mal, tinha que ser mulher’; ‘ah, perdoa, homem é assim mesmo, é só um deslize’; ‘mulher forte assusta homem’; ‘deve estar na TPM’; ‘mãe solteira? Abriu as pernas porque quis’; ‘desencalhou, hein?’; ‘só te traiu porque aquela vagabunda deu em cima dele, a culpa é dela, ele é homem, não aguenta’; ‘você se largou depois do casamento, praticamente jogou ele no colo de outra mulher’; ‘ah, é só uma paquerinha, finge que não vê, melhor ignorar e segurar seu homem, porque está difícil arrumar um’. 

Perdeu o fôlego? Eu também. Mas não perdemos a garra de denunciar e lutar contra toda e qualquer discriminação.

Por: Maíra Santafé