Recentemente, ao rebater possíveis comparações com Joe Biden, Lula mandou a galhofa: ‘Tenho energia de 30 e tesão de 20.’ O candidato à reeleição dos EUA é alvo de críticas por conta dos seus 81 anos. Neste artigo, no Poder 360, Demóstenes Torres observa que não é uma enfermidade ou uma recessão econômica que alimentam os ataques a Biden, mas um sinal de etarismo. Lula tem 78 anos e já se projeta aqui no Brasil que terá a mesma idade de Biden, em 2026, se concorrer à reeleição.
Aqueles que têm preconceitos com base na idade vão ter que lidar com essa nova realidade não só na política, mas em todos os setores da economia. Estudos mostram que os cabelos prateados da população brasileira com mais de 50 anos alcançarão 30% do total até 2030 e quase 40% até 2050. Segundo o IBGE, em 2022, eram 55 milhões de brasileiros com mais de 50 anos, sendo a maioria ativa profissionalmente.
Para se ter uma ideia, hoje, de acordo com o Sebrae, entre os 20 milhões de empreendedores brasileiros, 10% têm mais de 60 anos. E se há muita disposição para empreender de um lado, de outro há alto poder de fogo para consumir. Segundo estudo da consultoria Data 8, a geração com mais de 55 anos movimenta R$ 2 trilhões por ano no Brasil, representando 23% do consumo de bens e serviços, com renda anual de R$ 940 bilhões.
Assim, há também um enorme potencial de consumo desse público, gerando oportunidades para novos negócios e modelos inovadores de mercado em diversos setores, como saúde, turismo e bens de consumo. Em síntese, a criação de novos negócios voltados para este público é uma necessidade iminente.
As empresas que adaptarem seus produtos e serviços para atender às necessidades específicas dos mais velhos terão uma vantagem competitiva significativa nesse cenário. Essa transformação exige uma estratégia ESG robusta para ganhar a confiança e a lealdade deste público.
Em outra frente, há reflexos também em toda a cadeia de trabalho e produção, como aponta o estudo ‘Por que pessoas 50+ não são consideradas como força de trabalho em um país que envelhece?’, da EY Brasil e Maturi. A pesquisa mostra que este novo contexto demanda um novo olhar por parte das empresas para superar o etarismo. Um dos pontos mais preocupantes do estudo é que 80% das 191 empresas ouvidas não contam com políticas específicas de combate à discriminação etária em seus processos seletivos.
Em plena Década do Envelhecimento Saudável 2021-2030, declarada pela ONU em 2020, é crucial que as empresas invistam na promoção de uma cultura inclusiva, que valorize a diversidade etária. O desenvolvimento de políticas corporativas que favoreçam a integração de profissionais mais experientes pode trazer benefícios significativos às empresas, como a retenção de talentos e a redução de custos com turnover. Afinal, (parafraseando Gil) como dizia Dona Canô, quem não morre, envelhece!
Bom fim de semana!
(*) Eduardo Nunes é parceiro da Alter Conteúdo