Água, energia e conexão.
Os três elementos que podem mudar a vida de comunidades na Amazônia e garantir ao Brasil o protagonismo que lhe cabe como polo mundial de bioeconomia. E isso não é falácia ou retórica.
Apesar de cercadas de água por todos os lados, as comunidades em geral não têm saneamento e agora, com a crise climática que assola o planeta, têm ficado também a mercê da seca. Já o acesso à energia ainda é um sonho, mesmo com 99% da população brasileira incluída no Luz para Todos. E, por fim, a conexão: para garantir que cheguem ao século XXI, aprimorem aprendizado e principalmente troquem conhecimentos ancestrais.
“É injusto que a Starlink esteja na mão de garimpeiros e não seja acessível aos povos da floresta”, reivindica Caetano Scanavinno, da ONG Saúde & Alegria, que atua na região do Tapajós, no Pará, como uma catalizadora de projetos e iniciativas para promover o acesso a esses três elementos.
Foi a ONG que, buscando financiamentos públicos e privados, nacionais e internacionais, vem conseguindo colocar sistemas de abastecimento de água em comunidades como a Solimões, localizada na Resex Arapiuns. Sessenta famílias passaram a contar com água na torneira, mas antes disso foi preciso viabilizar a energia, usada para bombear a água do poço. A bomba d’água flexível é movida a energia solar e dispensa o uso de baterias, usando um inversor que converte a corrente dos painéis em energia alternada.
Na sexta-feira, outra iniciativa permitiu a inauguração do Ecocentro da Bioeconomia, um marco histórico para as comunidades que existem na beira do Tapajós. O espaço vai ter algo que deveria ser óbvio: permitir que produtos antes vendidos in natura, como a andiroba ou a copaíba, sejam processados em óleo ou manteiga, aumentando significativamente a receita dos produtores. Além disso, o projeto busca eliminar a figura do atravessador, otimizando a receita direta dos cooperados. O espaço também vai oferecer cursos de qualificação.
É fato que têm crescido o interesse institucional das mais diversas frentes por financiar essas iniciativas e eles estavam presentes na inauguração. Natura, e Fundação Toyota estão entre financiadores. O BNDES, por meio do Fundo Amazônia, traz recursos internacionais da Noruega e Alemanha, que por sua vez, enviaram ministras para participarem do evento representando seu apoio aos projetos. ONGs, como a Re:wild, fundada por Di Caprio, também participam. Mas a necessidade de escalonar projetos a outro nível é uma urgência.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, em sua fala na inauguração, lembrou que em sua infância a andiroba era ralada, uma a uma, para a extração do óleo, num exaustivo processo manual. E se emocionou ao ver os processos inovadores que permitem escalonar essa atividade no Ecocentro. Marina tem lugar de fala. Conhece a fundo os benefícios que a sociobioeconomia podem trazer para a região e tudo o que a floresta pode dar para o Brasil e para o mundo. Falta, no entanto, que outras instâncias políticas também percebam que o desenvolvimento só vem dessa forma, e ajam efetivamente em prol do tema. Afinal, basta olhar para os indicadores de desenvolvimento de cidades que concentram atividades de garimpo para ver que elas estão longe, bem longe, de serem consideradas “desenvolvidas”.