O Dia dos Pais se aproxima. Apesar de a data trazer diversas reflexões sobre o fato dessa ‘categoria’ nem sempre merecer homenagens em um país com tantas mães solo, este texto tem outro foco: o do homem que deseja ser pai no Brasil.
As leis trabalhistas atuais não permitem que esse homem acompanhe a mãe de seu filho em todas as consultas obstétricas e nas ultrassonografias. Também não permitem que ele acompanhe o filho, já nascido, em consultas médicas mais do que uma vez a cada 12 meses, mesmo que haja a recomendação de visitas regulares ao pediatra – no primeiro ano de vida, por exemplo, o bebê deve ser avaliado ao menos uma vez a cada mês. E nem entremos no mérito de sua participação na vida escolar, já que não há o que lhe assegure tal ‘privilégio’. Por fim, o absurdo ululante: em nosso país, o homem que deseja ser pai tem apenas cinco dias de licença paternidade.
Necessitamos de uma mudança urgente na legislação, e já há uma movimentação em curso. Neste momento, vem ganhando fôlego a ideia de conceder 75 dias de licença remunerada. Ainda é pouco? Com toda certeza. Mas ao menos supre o período mais delicado, em que a família está se adaptando ao novo integrante, em que o sono é escasso e o cansaço é extremo.
Esse momento é crucial também para a criação do vínculo entre pai e filho e para dividir as tarefas relacionadas ao zelo não apenas com o bebê, mas também com o pós-parto da mãe. A iniciativa é fundamental para que homens também exerçam a função do cuidado e para que as empresas entendam que não é aceitável esperar (ou exigir) que seus funcionários estejam dispostos a trabalhar a pleno vapor seis dias após o nascimento de um filho – tudo isso às custas do sacrifício de uma mulher que já vive o auge de sua vulnerabilidade, logo após dar à luz.
No entanto, além de fazer campanhas para o Dia dos Pais, as empresas compromissadas com ESG não precisam esperar a aprovação do aumento da licença paternidade. Embora algumas já concedam 20 dias ou até uma licença equivalente para pais e mães, é preciso haver uma política interna focada em parentalidade que, entre outras medidas, incentive a participação dos funcionários na criação de seus filhos.
Para chegarmos ao objetivo de uma sociedade mais igualitária, é primordial que os homens se tornem também engrenagem da economia do cuidado. Cuidar de alguém é revolucionário! E essa revolução já passou da hora de acontecer.