Você já se viu em um ambiente onde uma determinada opinião predomina entre a maioria, mas você tem um entendimento diferente? E, nesse contexto, você decide não manifestar sua posição, com receio, especialmente, de não ser aceito pelo grupo? Esta é chamada Teoria da Espiral do Silêncio, desenvolvida na década de 70 pela cientista política alemã Elisabeth Noelle-Neumann. Ela sugere que, em ambiente onde uma opinião predominante se impõe, indivíduos com opiniões divergentes tendem a silenciar suas vozes, por medo de isolamento social.
O atual cenário político nos EUA e no Brasil, fortemente marcado pela polarização, me fez lembrar dessa teoria e daqueles que não se identificam com nenhum dos dois lados. Nas eleições americanas, a dualidade entre democratas e republicanos é bem mais evidente. Eleitores moderados ou que discordam da linha dura do partido ao qual estão filiados enfrentam pressões internas para conformar-se ou silenciar-se, temendo represálias ou ostracismo. A ascensão de figuras como Donald Trump, por exemplo, reforçou essa dinâmica, onde divergências internas são frequentemente vistas como deslealdade.
No Brasil, embora haja um sistema pluripartidário – com 29 legendas ativas hoje, mas com o poder político concentrado nas mãos de apenas sete legendas –, a polarização não só permaneceu forte desde 2018, mas ganhou tração para as eleições municipais de 2024. A polarização do debate entre esquerda e direita, tanto em temas centrais, como segurança, saúde, emprego e educação, quanto na pauta de comportamento, cria um ambiente onde opiniões moderadas ficam suprimidas. Eleitores que não se alinham com os extremos sentem-se compelidos a se calar, temendo rejeição em seus círculos sociais ou profissionais. Às vezes, por pura preguiça mesmo!
Esse cenário é muito mais propício para o crescimento de candidatos que têm na polêmica a estratégia principal para conquistar o voto do eleitor, como o empresário e autointitulado ex-coach Pablo Marçal (PRTB) na corrida eleitoral pela prefeitura da cidade mais populosa do Brasil, São Paulo. Isso enfraquece o debate, com o espaço sendo preenchido com pirotecnias políticas, factoides eleitorais e performances de palco.
A Espiral do Silêncio nos ajuda a entender um pouco melhor como a polarização molda o comportamento do eleitor moderado nos dias de hoje. Em tempos de polarização extrema, garantir um espaço para o diálogo e a expressão de opiniões divergentes é essencial para uma democracia saudável. Desta forma, o desafio é romper essa espiral, promovendo uma cultura de respeito à pluralidade de ideias em todos os ambientes de discussão.
O ponto nevrálgico talvez seja o enfrentamento visando à revisão dos algoritmos, tão protegidos pelas plataformas digitais, de modo a incentivar a exposição a uma variedade de perspectivas e reduzir o efeito das bolhas ideológicas. Embora a revisão direta não seja viável, uma ação de advocacy por uma regulamentação que obrigue as plataformas a garantir maior diversidade e equidade no conteúdo exibido pode ser uma estratégia eficaz. Além disso, uma moderação ativa em prol de debates respeitosos, com incentivos a comentários construtivos, pode criar um ambiente mais seguro para expressar opiniões divergentes.
Ao estabelecer espaços de diálogo onde todos os pontos de vista são respeitados e considerados, é possível reduzir o medo de represálias por opiniões não convencionais. Dessa forma, talvez seja possível criar espaços mais inclusivos e democráticos.
Bom fim de semana!
(*) Eduardo Nunes é parceiro da Alter Conteúdo