29 de agosto de 2024 | Estratégia ESG, ,

Reputação em chamas

Por Gilberto Lima

O fogo é um velho conhecido da indústria canavieira. Quase tão antigo quanto a cultura da cana-de-açúcar no Brasil, que remonta à chegada dos colonizadores, é o uso de queimadas. A prática tem como objetivo facilitar a colheita não mecanizada, com a eliminação de folhas secas e verdes, conhecidas como palhas de cana.

Ao mesmo tempo, a produção do setor vem sendo prejudicada com as mudanças climáticas. Em maio, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), estimou uma queda de 5,6% na produção de cana-de-açúcar no Sudeste, responsável por aproximadamente 65% da produção nacional. A maior redução foi prevista para São Paulo, com 28,3 milhões de toneladas a menos em relação ao ano anterior.

Na época, um dos principais motivos mencionados para a queda na produção foram os baixos índices pluviométricos, aliados às altas temperaturas. Como consequência, a combinação desses fatores favorece as queimadas, sejam elas intencionais ou não.

Nesse contexto, os incêndios que vêm castigando as lavouras de cana em São Paulo pioram ainda mais as perspectivas. Estimativas da Organização de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) indicam que as queimadas deverão resultar em perdas da ordem de R$ 350 milhões na produção das áreas atingidas, que somam 59 mil hectares.

Nos últimos anos, a partir de compromissos firmados com autoridades e pelo aumento da mecanização, o uso de queimadas por produtores vem diminuindo em algumas regiões. Em outras, contudo, ainda persistem. Por isso, a reputação do setor sofre com a persistência de uma prática que já deveria ter sido abolida, seja por motivos ambientais, seja por motivos econômicos. Bons exemplos não faltam.

De acordo com União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), o bagaço e a palha gerados pela cadeia produtiva do setor foram os principais combustíveis na geração de bioeletricidade no ano passado, com uma oferta de 20.973 GWh. Mais recentemente, a Agrion, sediada em Minas Gerais, recebeu um aporte de US$ 50 milhões do Fundo Global para Recifes de Corais para expandir a produção de fertilizantes organominerais a partir de resíduos da produção de cana.

Cabem, portanto, aos produtores com visão sustentável – que são muitos – uma articulação mais contundente entre seus pares e instituições públicas no sentido de deixar, definitivamente, o passado para trás.

* Gilberto Lima é produtor de conteúdo, dono da Agência Celacanto, especializado em clima e finanças sustentáveis, e parceiro da Alter Conteúdo

Por: Gilberto Lima