19 de setembro de 2024 | Estratégia ESG, , , ,

A hora da verdade para o ‘ativismo de sofá’

Por Andréia Lago

Estamos a pouco mais de duas semanas das eleições municipais, marcadas para 6 de outubro, quando os brasileiros irão escolher os prefeitos dos 5.570 municípios do país, além de mais de 60 mil vereadores. É uma grande oportunidade para refletirmos sobre o que pensamos – e dizemos – sobre nossas posições a respeito de equidade de gênero e raça.

Nas redes sociais, tornou-se quase impositivo manifestar-se sobre situações de discriminação racial e defender causas identitárias. É o chamado ‘ativismo de sofá’ (quem nunca?). Mas, e fora das redes sociais? Como você coloca em prática as bandeiras em defesa de grupos minorizados que levanta no mundo virtual?

Uma pesquisa realizada pelo Observatório da Branquitude mostra que candidaturas de pessoas brancas concentraram mais de 70% da verba pública para financiamento de campanhas no último pleito. De acordo com o levantamento, mais recursos para campanha multiplicam por 6,6 as chances de conquistar um mandato. Se a candidatura for de um homem, as chances são multiplicadas por 2,5.

Não são dados surpreendentes, se olharmos para o resultado das urnas. Nas últimas eleições municipais, em 2020, apenas 12% das prefeituras tiveram mulheres eleitas para o cargo. E apenas 4% são mulheres negras. Nas câmaras municipais, apenas 16% das vereadoras eleitas são mulheres. Novamente, mulheres negras são apenas 6% das vereadoras em todo o país.

relatório do Observatório Brasileiro das Desigualdades de 2024 destaca que esses e outros indicadores mostram sub-representação generalizada de pessoas negras nas esferas de poder no Brasil. Como o que ocorre também no Poder Judiciário: dos 16 mil magistrados brasileiros, apenas 251 são pessoas negras.

Esses dados estão inseridos no contexto de disparidades raciais profundamente enraizadas no país, em que pessoas negras enfrentam maiores dificuldades para se escolarizar, ocupar melhores posições no mercado de trabalho, habitar moradias dignas e reduzir a exposição à violência. Antes de questionarmos como é possível mudar essa realidade, é preciso refletir sobre representatividade.

Frequentemente, pessoas negras e mulheres são identificadas como grupos minoritários em discursos, documentos e na mídia. No entanto, o Censo 2022 realizado pelo IBGE mostrou que as mulheres são 51,5% da população brasileira, que é formada por 55,5% de pessoas que se identificam como pretas ou pardas.

Quando falamos em inclusão social, portanto, é preciso lembrar que há mais mulheres e pessoas negras na população brasileira do que retratam os espaços de poder do país. Defender a inclusão de grupos minorizados passa, necessariamente, pelas escolhas que nós, brasileiros, fazemos nas urnas.

* Andréia Lago é jornalista, mestre em Comunicação e Cultura (UFRJ) e cofundadora da Lake&Co. Agência de Conteúdo.

Por: Andréia Lago