O planeta nunca esteve tão quente, pelo menos desde que a humanidade apareceu aqui na Terra. Em 2023 e 2024, registramos o aumento de 1,5°C na temperatura média global desde os níveis pré-industriais. Neste ano, além das enchentes no Rio Grande do Sul, o Brasil se depara com o encontro do clima extremo com o crime extremo. O resultado são as piores queimadas em todo o país nos últimos 14 anos.
Como se não bastasse, a emergência climática não faz desaparecer a desigualdade de renda, a concentração de riqueza ou a falta de manutenção de direitos trabalhistas e sociais. Muito pelo contrário.
Mas, em meio a tudo isso e com um mundo cujos rumos constantemente nos frustram, surge uma pergunta: por que lutamos por um meio ambiente sustentável, por justiça social e por governanças eficazes?
Existem diversas respostas além de simplesmente ‘porque é o certo’. Um clima equilibrado, uma sociedade igualitária e poderes que atuem para garantir ambos soam como boas condições para viver no século XXI. Sem isso, fica bem difícil garantir aquilo que ninguém vai discordar que, de uma forma ou outra, desejamos: ser felizes. Mas será que, com esse tanto de ruído, a gente sabe direito o que é isso?
O divulgador científico australiano Derek Muller, do canal Veritasium, se debruçou sobre essa pergunta no vídeo ‘O Que o Estudo Mais Longo Sobre a Felicidade Revela’. Logo na abertura, ele faz uma série de perguntas a quem passa sobre o que é necessário para ser feliz. Muitas pessoas respondem rapidamente que a felicidade está relacionada a ter mais dinheiro, uma carreira de sucesso ou economizar para uma aposentadoria.
No entanto, conforme o vídeo avança e os interlocutores refletem, as respostas mudam, e mais se alinham com os achados do Estudo de Desenvolvimento Adulto, da Universidade de Harvard. Iniciado em 1938, ele acompanhou a vida de mais 700 indivíduos por 86 anos, tornando-se a pesquisa mais longa já realizada sobre felicidade e saúde humana. Entre os participantes, havia estudantes de Harvard e jovens de bairros pobres de Boston, nos EUA. Ao longo do tempo, também foram incluídos seus filhos, netos e parentes.
Alguns deles se tornaram médicos, advogados, operários e até presidentes do país; outros ganharam prêmios Nobel. Independentemente de suas trajetórias ou conquistas, o estudo revelou que a qualidade dos relacionamentos interpessoais é o fator mais determinante para uma vida feliz e saudável.
Robert Waldinger, atual diretor do estudo, em entrevista à BBC em 2023, explica que essas conexões funcionam como reguladoras emocionais, auxiliando na gestão do estresse e dos desafios diários. Não se trata da quantidade de amigos ou contatos e sim da profundidade e autenticidade dessas relações. ‘Quando você tem relações fortes e de confiança, você tem um alicerce sobre o qual pode enfrentar os altos e baixos da vida’, sublinha o doutor em psiquiatria.
É curioso notar que a primeira resposta – da lógica econômica – por vezes espelha o mesmo nexo que classifica como inevitável a exploração de recursos naturais ou a desigualdade que permeia nossos tecidos sociais. Entretanto, ao focar no acúmulo como fonte de felicidade, frequentemente ignoram-se os custos dessa busca. Essa lógica inevitavelmente não apenas compromete o meio ambiente e a sociedade, como também mina a própria felicidade humana.
Crises ambientais, sociais e políticas não são apenas obstáculos isolados, mas barreiras que dificultam o acesso ao que é essencial para a felicidade humana: relacionamentos significativos. As iniciativas ESG e os esforços para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são ferramentas que, no fim, servem para criar alternativas de mundo no qual seja mais fácil alcançar esse propósito.
Diante de desafios globais tão grandes, é bom voltar um passo. Não é apenas por um planeta mais verde ou por índices econômicos mais justos, mas pelo ‘chão comum’ necessário para uma vida de mais plena conexão. Uns com os outros.