Os disclosures – aquelas divulgações bonitinhas sobre ESG que tanto fascinam o mercado – têm sido úteis para medir os impactos das atividades econômicas. Siglas como TCFD e TNFD já são familiares no meio corporativo, ao lidar com riscos e oportunidades relacionadas ao clima e à natureza.
Agora, a bola da vez é a desigualdade, que chega formalmente com a Taskforce on Inequality and Social-related Financial Disclosures (TISFD), lançada na Climate Week. Seu objetivo é criar um sistema financeiro mais justo, abordando de frente as desigualdades e os impactos sociais gerados por empresas e instituições financeiras.
A TISFD argumenta que incluir fatores sociais, como desigualdade, nas decisões empresariais e financeiras é vital para construir economias mais robustas e coesas. Ignorar isso não é só um risco para a sustentabilidade dos negócios, mas para a estabilidade financeira global.
Há motivos para o alarde. A perda de poder aquisitivo das massas afeta diretamente os lucros das empresas, algo que raramente aparece nos relatórios de sustentabilidade.
O Reporting Matters de 2023 do CEBDS mostrou que a desigualdade social nem sequer entra na lista dos 25 temas materiais mais abordados pelas empresas. Enquanto 70% delas focam em mudanças climáticas, apenas 14% consideram o salário digno.
Desigualdade, tema rotineiro na filantropia, parece uma conversa desconfortável para a Faria Lima. Então, aqui vão alguns números para mostrar o elefante na sala.
O 1% mais rico do mundo (apenas 77 milhões de pessoas) é responsável por 16% das emissões globais de CO2, mesmo volume dos 66% mais pobres – cerca de 5 bilhões de pessoas. No mundo, 735 milhões de pessoas estão subnutridas; 160 milhões de crianças trabalham; e 724 milhões vivem com menos de US$ 2,15 por dia. São números gritantes, mas, aparentemente, não muito urgentes para alguns executivos.
A TISFD aponta que as consequências da desigualdade são vastas, corroendo a coesão social, inibindo a formação de capital humano e minando a estabilidade financeira. Empresas que consideram esses fatores estão mais aptas a inovar e a manter relações saudáveis com comunidades e consumidores.
Estamos num ponto de ruptura social, uma ideia destacada pela filantropa Neca Setubal em evento do IDIS. E se somarmos isso ao pensamento do economista Eduardo Giannetti sobre a ‘falência da prosperidade’, onde o desespero predomina entre os jovens, estamos flertando perigosamente com a convulsão social.
A TISFD não deixa dúvidas: desigualdade não é só um risco para o desempenho econômico, mas para a própria estabilidade financeira de longo prazo. O alerta é claro: ou as empresas se responsabilizam por costurar este tecido social, ou veremos a implosão de um sistema que tenta salvar o planeta, mas pode perder a humanidade.
Afinal, salvar o planeta sem salvar as pessoas faz algum sentido?