Como passar cinco dias sem energia elétrica, vendo alimentos apodrecerem no estoque do restaurante e ninando crianças inquietas que não conseguem dormir sem ventilador? Por onde começar a vida depois de perder todos os bens materiais, e tantas memórias afetivas, em uma enchente?
Essas são algumas perguntas que podem ter atormentado milhares de pessoas durante o apagão em São Paulo (infelizmente, ainda em curso) e na tragédia climática que atingiu quase todas as cidades do Rio Grande do Sul, em maio. Mas, o que essas cidades têm em comum, ou deveriam ter?
Sem a menor pretensão de apresentar um diagnóstico definitivo, arrisco dizer que lhes falta, sobretudo, sustentabilidade, no sentido mais amplo e genuíno da palavra. Cidades sustentáveis se caracterizam, principalmente, por promover um conjunto de práticas e políticas públicas com foco no equilíbrio, colocando na mesma balança o desenvolvimento urbano, natural da condição de um espaço onde coexistem pessoas e edificações com demandas e histórias diferentes; a preservação ambiental, imprescindível para a sobrevivência da natureza verde e da humana e de tudo que nela coabita; e o bem-estar social e econômico da sua população, que incide diretamente na qualidade de vida dos seus habitantes.
Equilibrar tudo isso, porém, não é fácil. O que acontece em São Paulo, por exemplo, parece ser mais um caso de falta de gestão de infraestrutura. Não, a culpa não pode ser das árvores.
A sustentabilidade urbana também é sinônimo de priorizar um planejamento urbano integrado, que pensa nos diversos fatores que podem causar falhas nos sistemas e nas redes de distribuição de energia. O contrário disso, portanto, são cidades vulneráveis. O Rio Grande do Sul igualmente enfrentou uma questão de falta de infraestrutura urbana, pois a boa aplicação desta também envolve colocar em prática planos de mitigação aos impactos das mudanças climáticas (que já não são raras e nem surpresa para ninguém).
No início desta semana, circulou a notícia de que Paulista, em Pernambuco, é a primeira das 10 cidades do país a implementar o Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR), projeto liderado pela Secretaria Nacional de Periferias do Ministério das Cidades em parceria com o Serviço Geológico do Brasil (SGB). O objetivo do plano é mapear e prevenir desastres em áreas de risco.
É, sim, um começo. Ainda que lento. Afinal, ainda temos outros 5.569 municípios brasileiros que também precisam desse trabalho do governo federal para garantir que todos, principalmente as populações mais vulneráveis, possam sentir o que é viver em uma cidade sustentável pensada para a sua gente, e não apenas para colecionar títulos verdes na parede da prefeitura.