Dezembro está chegando, e com ele o Natal, as sete ondas para pular no Réveillon, as confraternizações entre família, amigos e colegas. E é nessas horas relaxantes, porém, que nossa mente precisa estar mais arisca.
Muitas vezes, no dia a dia, para evitar maiores estresses, deixamos passar por nossos ouvidos um quilo de informação equivocada, vinda de mentes e vozes que se acham potentes, espertas, superiores, e ‘de bem’
Não paramos para pensar que, quando não somos parte da solução, estamos no cerne do problema. Mesmo que o assunto não nos ofenda diretamente, comentários racistas, machistas, LGBTfóbicos, gordofóbicos, classicistas, meritocráticos e outros tantos preconceitos velados de “opinião” precisam ser limados.
Dia desses, num restaurante, minha interlocutora me disse não se sentir respeitada, porque ela tem o direito de não achar normal o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo. Ampliou seu discurso para bissexuais e para quem, independentemente de sexualidade, tem múltiplos parceiros, insinuando falta de moral uma pessoa solteira agir feito solteira.
Sua fala carregada de preconceitos não passou ilesa por mim e, assim, ganhei a alcunha de ‘tacanha’, já que não sou capaz de aceitar uma síndrome de Gabriela (“eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim, Gabriela”) dançando em minha frente com batatinhas ao cheddar nas mãos.
Outra interlocutora, uma mulher branca, interrompeu meu discurso de mulher negra sobre lugar de fala, me explicando que as pobres outras criaturas às vezes elogiam pessoas negras para elas não ficarem chateadas por serem negras. Não era o assunto, mas também não virou treta, porque, conhecendo a pessoa, eu já sabia que não valeria a pena gastar minha saliva. Ela não sabe ouvir. Finalizei com “obrigada, você deve estar certa”, e recebi um “não sei se estou certa, nem me importo com isso, mas é o que vemos”. A sujeita se acha a salvadora da pauta racial, mas não enxerga que “não se importar” é o que faz o mundo ser como é.
Momentos como esses podem e irão acontecer, em qualquer lugar, vindos de qualquer pessoa. Algumas delas, apenas equivocadas ou banhadas pelos tantos preconceitos estruturais de nossa sociedade, ouvirão argumentos, dispostas a aprender, e mudarão suas falas e atitudes. Outras, infelizmente, preferirão se manter no erro, e não é sua ou nossa função viver a explicar.
O mais importante, acima de tudo, é saber e querer escolher o lado de qualquer pessoa ou grupo invisibilizado ou minorizado. É não permitir a violência e parar de arrumar desculpas para as ‘piadinhas’ anos 1990 daquele ‘cara legal’ do churrasco ou da parceira da hora do cafezinho. Panos passados não mais passarão.
* Em novembro, os editoriais da Estratégia ESG serão escritos exclusivamente por autoras e autores negras e negros. Um símbolo para que ultrapassemos — enquanto sociedade — as fronteiras do mês e tenhamos vozes negras sempre, ativas e ecoantes. Acompanhe conosco!