6 de dezembro de 2024 | Estratégia ESG

‘Colaboradores’ do mundo, uni-vos!

Por Maíra Santafé

Colaboradores do mundo, uni-vos!

Há alguns anos, venho ‘brincando’ com a clássica frase presente no Manifesto Comunista (Karl Marx e Friedrich Engels, 1848). Em 14 de novembro, a frase voltou à cachola, após eu ter assistido, no G20 Social, o painel ‘Sem trabalho, sem futuro: trabalho digno e organização sindical para enfrentar as transformações no mundo do trabalho’, organizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT). O painel teve as presenças de Antonio Lisboa – secretário de Relações Internacionais da entidade e membro do Conselho de Administração da Organização Internacional do Trabalho (OIT) – e Celeste Drake, diretora-geral adjunta da OIT.

Lisboa citou o termo ‘colaborador’, utilizado frequentemente nas empresas como uma forma de diminuição do valor do trabalho, e destacou que a importância do trabalho, e consequentemente da figura do trabalhador, vem sendo secundarizada. Ele também afirmou que o capital reforça o individualismo e a competição, enquanto a importância e a eficácia da coletividade são desprezadas. Essa ideia, além de adoecer as pessoas (que seguem com a sensação contínua de fracasso), enfraquece o trabalho coletivo – que verdadeiramente fortalece as relações de trabalho e otimiza a produção.

O procurador do Ministério Público do Trabalho e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Cássio Casagrande, em entrevista ao Jota, destacou que o discurso linguístico nunca é neutro: ele sempre embute uma ideologia – referindo-se à palavra ‘colaborador’, em substituição a ‘trabalhador’. E reforçou que a relação de trabalho ‘nada mais é do que um contrato de compra e venda do tempo de vida do empregado. O trabalhador vende e coloca à disposição do empregador valiosas horas de sua finita permanência neste mundo’. Mas o termo ‘colaborador’ cria a ilusão de que existe uma organização horizontal na empresa, como se não houvesse uma hierarquia.

Se ainda há qualquer dúvida sobre como é equivocado chamar de colaboradores os trabalhadores, vamos recorrer ao dicionário: segundo o Michaelis, ‘colaborador’ é ‘aquele que colabora ou ajuda outro em suas funções; cooperador; pessoa que, sem pertencer ao quadro de funcionários, trabalha para ela habitualmente ou de modo esporádico’.

Logo, chamar ‘trabalhadores’ de ‘colaboradores’ não aproxima hierarquicamente empregados de empregadores. Pelo contrário: mesmo que não seja a intenção – e, de fato, para muitos não é –, é uma forma, como disse Lisboa, de diminuir o valor do trabalho e de todas as horas de suas vidas dedicadas a ele.

Por: Maíra Santafé