10 de dezembro de 2024 | Estratégia ESG, ,

O Fundo Amazônia e o fortalecimento indígena

Por Lívia Ferrari

Duas meninas indígenas

Sou uma entusiasta do Fundo Amazônia. Tive a oportunidade de acompanhar sua criação e implantação quando trabalhei no BNDES, que é o gestor do fundo. Depois de ser abandonado pelo governo anterior, o Fundo Amazônia voltou com carga total. E durante o G20 Social, no Rio de Janeiro, conheci um projeto beneficiado por essa retomada.

É o Gestão Territorial da Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (Opirj), no Acre. O projeto visa dar escala regional a estratégias bem-sucedidas de proteção territorial, com foco também em segurança alimentar, na melhoria das condições de vida, valorização da cultura e tradições das comunidades indígenas, e proteção da Floresta Amazônica.

A Opirj é coordenada por Francisco Piyãko, filho mais velho de uma liderança Ashaninka, membro da aldeia Apiwtxa. Piyãko herdou a responsabilidade de liderar o seu povo. E faz isso com orgulho e esmero, articulando populações indígenas.

O Fundo Amazônia aprovou R$ 33,6 milhões à Opirj para combater o desmatamento na região, na fronteira com o Peru. Essas terras somam 640 mil hectares – uma área maior que o Distrito Federal –, onde vivem mais de 11 mil indígenas, de 14 povos.

As ações propostas mostram o protagonismo dos indígenas do Alto Juruá na busca de soluções para proteger a floresta. Os trabalhos fortalecem a agenda indígena e incluem estratégias integradas de proteção territorial, com atuação em rede, de forma coordenada, em 13 Terras Indígenas (TIs) da região.

Apenas 2% do desmatamento na Amazônia em 2022 foi registrado em TIs, o que comprova a capacidade dos povos originários de proteger a floresta. Mas o quadro é desafiador. A região do Alto Juruá, por exemplo, é vítima de pressões crescentes sobre seus recursos naturais, com invasões para caça e pesca ilegais, extração e escoamento de outros recursos da floresta, principalmente da madeira.

O projeto da Opirj leva em conta essas vulnerabilidades. Por isso prevê o fortalecimento institucional, com uma estratégia integrada para enfrentar as pressões no território. Planeja ainda a implementação de ações de gestão territorial e ambiental para proteger e preservar a floresta. E apoia atividades produtivas sustentáveis, com foco na segurança alimentar e na sustentabilidade dos modos de vida tradicionais – uma estratégia importante para a permanência dos indígenas em suas terras, ocupando e protegendo o território.

As experiências serão repassadas a outras comunidades, num processo de disseminação do conhecimento da gestão territorial, contou o líder indígena Piyãko, para uma plateia atenta de estudantes do Sudeste do Brasil. Provavelmente foi o primeiro contato direto desses jovens com a rica cultura indígena, orgulhosa de suas tradições. Para eles, ao final da palestra, o Brasil passou a ser mais conhecido e mais diverso.

Por: Lívia Ferrari