Uma pesquisa recente da consultoria Bloomers, que atua no desenvolvimento de marcas, aponta que 31% dos homens acreditam que as mulheres não devem ter uma carreira ou que devem ter uma carreira, mas que seus filhos, maridos e casas devem ser prioridades. Em contraponto, 40% das entrevistadas disseram estar pouco ou nada otimistas com o futuro das mulheres.
Eu me pergunto: a que se deve esses dados alarmantes? E me arrisco a conjecturar.
Será que é por conta:
– De anos, décadas, séculos, de machismo estrutural, que nos colocou diante do fogão e do tanque, em vez atrás de uma carteira de escola e de uma mesa de trabalho?
– De anos, décadas, séculos, servindo marido, filhos, família sem pagamento e sem reconhecimento, ou sendo mães solo renunciando a tudo e cuidando de todos sozinha, sem ninguém para dividir e cuidar de nós?
– De anos, décadas, séculos, trabalhando duro para provar que somos tão capazes, e ainda assim ganharmos expressivamente menos do que os nossos pares masculinos?
– De anos, décadas, tentando galgar posições estratégicas em organizações, mas tendo chances reduzidas de ascensão?
– De anos, décadas, sendo silenciadas, reinterpretadas, caladas em reuniões de trabalho e na vida pelos homens que sabem tudo e têm sempre que dar a última palavra?
– De anos, décadas, séculos, de falta de apoio de parceiros de vida, que desacreditam da nossa capacidade e potência, ou acham que o trabalho deles é mais importante do que o nosso, então, nada mais natural do que a gente ceder e – como aponta a pesquisa – priorizá-los?
– De anos, décadas, séculos, de abuso, violência e tortura em espaços onde deveríamos nos sentir protegidas e acolhidas?
– De anos, décadas, séculos, tendo que dar conta das múltiplas versões de nós mesmas e ainda entender as necessidades e as dificuldades masculinas, prestando o nosso irrestrito apoio e compreensão?
– De anos, décadas, séculos, de nós mesmas, mulheres, reproduzirmos esse sistema machista, inclusive na educação dos filhos, que nos foi ensinado como sendo algo “da natureza feminina”, sem nos questionarmos e, ao invés de apoiarmos umas às outras, espezinharmos a nós mesmas ainda mais?
Chega. Já deu de “é assim mesmo que funciona”.
Já é passada a hora de mudarmos o rumo dessa prosa pobre, injusta, objeta, abjeta e obsoleta. Dos homens, e é claro que existem exceções, saírem dessa confortável posição machista de que devem ser a prioridade, devem ser servidos, sabem de tudo, podem de tudo, merecem tudo e são os senhores da terra.
Já é mais que passada a hora de nós, enquanto sociedade, tomarmos vergonha na cara! Sim, uma expressão bastante popular que, de modo simplificado, significa ter dignidade, tomar consciência do que está fazendo. E não dá mais para fugirmos do fato de que ou agimos para atingir o quanto antes a equidade de gênero, em casa, na rua, nas relações afetivas, nas corporações, na política, ou nunca teremos dignidade. E se já sabemos como fazer isso, não temos mais desculpa para não arregaçar as mangas e mudar já o que já era para ter sido mudado.
Todos e todas. Sem exceção.
* Durante todo o mês de março, os editoriais da Estratégia ESG serão escritos exclusivamente por mulheres que compõem a equipe da Alter Conteúdo e convidadas. Mais do que uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher, nosso objetivo é trazer reflexões variadas sobre a construção do feminino e suas implicações no dia a dia das mulheres.