Quantas vezes você julgou uma mulher?
Por falar alto demais (‘nossa, ela quer aparecer para quem?’), por ser sexy demais (‘precisava usar uma roupa tão curta?’), por ter uma postura descontraída demais no trabalho (‘como vão levá-la a sério agindo desse jeito?’). Muitas vezes, o ato acontece sem que a gente perceba, de tão ‘natural’ que é.
Não caia nessa, minha amiga. A rivalidade feminina é tão natural quanto o bronzeado de um certo ex-presidente dos Estados Unidos!
Todos os ‘excessos’ são mensurados por padrões criados pelo patriarcado. Aqui, faço um parênteses para explicar, brevemente, do que se trata. É um sistema sociopolítico em que os homens estão em situação de poder e, para se manterem nela, se utilizam de ferramentas como a rivalidade entre mulheres.
A psicóloga Priscila Sanches, com formação em Saúde Mental, Gênero e Sexualidade, em entrevista para o Correio do Povo, explica que ‘o grande cerne da questão é manter o poder no domínio masculino, porque se as mulheres não perceberem o poder que existe na própria união, elas nunca vão se acolher. Então, a rivalidade feminina é muito conveniente para esse sistema que a gente vive’.
Enquanto isso, no Centro de Controle do Patriarcado… 8 dos 10 países mais populosos do mundo são liderados por homens com mais de 70 anos, entre eles, China, Índia, Rússia, Estados Unidos e Brasil. Aqui, na América Latina, apenas duas das 10 pessoas mais ricas da região são mulheres (herdeiras de fortunas deixadas por maridos falecidos).
Ou seja, o poder e o dinheiro (a meu ver, praticamente sinônimos) estão concentrados na mão deles, ao passo que nós, mulheres, somos (i) as mais impactadas pela crise climática, (ii) as que recebem salários menores – e quando fazemos um recorte racial, o abismo é ainda maior, (iii) as responsáveis pelas tarefas de casa, dos cuidados com os filhos e com genitores (como minhas queridas Kelly Lima e Maíra Santafé bem colocaram em editoriais anteriores), e por aí vai.
Poderia preencher laudas e laudas, elencando tudo o que o patriarcado nos proporciona (contém ironia).
Passamos uma vida inteira tentando superar outras mulheres, ao mesmo tempo que eles ditam as regras de um jogo de cartas marcadas, em que raramente vencemos. E, antes que o Centro de Controle do Patriarcado venha me acusar de incitar uma ‘guerra dos sexos’, não é sobre estar contra os homens, e sim a favor das mulheres.
Por isso, hoje, meu chamamento é para todas nós. Para que a gente se una, troque a rivalidade feminina por sororidade e estabeleça novos direcionamentos que nos permitam jogar de igual para igual.
Eu costumava dizer que preferia ter amigos porque as amizades femininas eram muito complicadas e repletas de intrigas e fofocas. Ainda bem que percebi o quão equivocada e manipulada estava sendo. E, hoje, agradeço diariamente por estar cercada por diversas mulheres que me inspiram, incentivam, empoderam e motivam a ser uma Carol melhor a cada dia.
Vamos, juntas, ocupar os espaços que também são nossos, porque somos boas pra caramba e merecemos! Como diria a rainha Beyoncé: Who run the world? Girls! (da tradução livre: quem manda no mundo? Garotas!)
* Durante todo o mês de março, os editoriais da Estratégia ESG serão escritos exclusivamente por mulheres que compõem a equipe da Alter Conteúdo e convidadas. Mais do que uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher, nosso objetivo é trazer reflexões variadas sobre a construção do feminino e suas implicações no dia a dia das mulheres.