A geração Z, composta por aqueles nascidos entre o final da década de 90 e meados de 2010, tem sido tema de muitos debates, pesquisas e notícias nos últimos anos. Porém, é importante reconhecer que, independentemente da geração, sempre haverá divergências geracionais. Hoje, estou aqui para compartilhar meu ponto de vista como alguém que não se encaixa nos estereótipos atribuídos à geração Z.
Como filha de um casal negro, cresci em um ambiente onde o valor da educação sempre estava em primeiro lugar. Meu pai trabalhou desde cedo, enquanto minha mãe, mesmo com mais recursos, não teve a oportunidade de cursar uma faculdade. Ambos se esforçaram para garantir que eu tivesse a melhor educação possível, e assim aconteceu.
Ao me deparar com os estereótipos atribuídos à geração Z, fiquei perplexa. Como pode a geração Z não saber usar um computador? Eu aprendi PowerPoint, Excel, Word, tudo na escola! E quanto à ideia de levar os pais para entrevistas de emprego? Isso nunca foi uma opção para mim; o trabalho deles não permitiria. Além disso, sempre pretendi ser uma líder e nunca hesitei em enfrentar desafios no trabalho. Afinal, trabalhar é um privilégio que não posso me dar ao luxo de dispensar.
Cada nova pesquisa que eu lia me deixava ainda mais intrigada. Por que não me encaixo no que se espera da geração Z? Embora reconheça que alguns dos meus amigos se encaixem nesses estereótipos, sei que não representam a maioria. Como alguém que frequentou escolas e universidades particulares, não era incomum encontrar pessoas em situações financeiras melhores que a minha, que viam meu estilo de vida como algo incompreensível.
Mas então, qual é a realidade da geração Z? No meu caso, como uma mulher negra, muitas vezes me sinto deslocada em relação aos padrões estabelecidos. A narrativa de que a geração Z prioriza a saúde mental e o equilíbrio é válida, mas muitas vezes as circunstâncias da vida não nos permitem seguir essa prioridade.
Recentemente, vimos exemplos disso na mídia, como o caso de Davi, vencedor de um reality show aos 21 anos, que teve seu primeiro emprego vendendo água no balde pelas ruas de Salvador. Para qual entrevista ele deveria ir acompanhado de sua mãe?
Eu, por outro lado, tive a oportunidade de começar a trabalhar após a faculdade, já com uma profissão. Mas sempre mantive em mente as lições da minha família, que valorizavam o trabalho e o respeito. Sempre fui incentivada a ouvir os outros, gosto de receber feedbacks construtivos e quero cada vez mais responsabilidade no trabalho.
Num mundo cheio de ideias pré-concebidas, é importante lembrar que não dá pra resumir toda uma galera a alguns estereótipos. Cada um de nós é moldado por uma variedade de influências, desde nossa história familiar até o contexto socioeconômico em que crescemos.
Então, quando falamos da geração Z, ou de qualquer outra geração, é importante entender que cada um carrega histórias bem diferentes por trás, principalmente quando não desfruta dos privilégios normalmente reservados aos brancos e à classe média alta.