22 de maio de 2024 | Estratégia ESG, , , ,

Nenhuma vida a menos

Por Renata Mello

Celebrado anualmente em 22 de maio, o Dia Internacional da Biodiversidade foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1992. Seu propósito é conscientizar a população mundial sobre a importância da preservação da biodiversidade em todos os ecossistemas. 

No início dos 90, lembro-me claramente das campanhas ambientalistas do tipo ‘Salve as Baleias’, ‘Salve o Mico-Leão-Dourado’ e de matérias no Fantástico sobre o risco de extinção da Arara Azul. Foi nessa época que ganhei de uma pessoa aleatória um adesivo que me intrigou. Na arte, o desenho de um boneco daqueles feitos de braços e pernas de palitos e os dizeres ‘Salve o Homem’. A assinatura: ‘Projeto Gaia’. Guardo até hoje.

Creio que o tal projeto não exista mais, pelo menos não encontrei na internet nenhum homônimo tão antigo. Mas a Teoria de Gaia, que diz que a Terra e seus componentes (atmosfera, oceanos, solo e biosfera) funcionam como um sistema auto-regulado e interconectado, está mais viva do que nunca. Com os efeitos da crise climática tornando-se cada vez mais avassaladores, fica mais claro que conservar a biodiversidade e os ecossistemas é, na verdade, urgente para salvar a humanidade.

A biodiversidade sustenta serviços ecossistêmicos vitais, como a polinização, a manutenção da fertilidade do solo, a preservação dos corpos de água e o controle de pragas. No dia 8 de maio, Nature publicou uma pesquisa  que mostrou que os impactos ambientais causados pelas atividades humanas aumentam o risco de aparecimento de doenças infecciosas em quase 900%.  O estudo analisou cinco impulsionadores principais: perda de biodiversidade, mudanças climáticas, poluição química, introdução de espécies não-nativas (as tais espécies invasoras) e perda de habitat. 

A biologia básica explica. Em ecossistemas saudáveis, a diversidade de espécies desempenha um papel importante na manutenção do equilíbrio ecológico. A presença de várias espécies pode reduzir a transmissão de patógenos, pois eles têm mais hospedeiros alternativos e menos oportunidades de se espalhar amplamente entre a comunidade humana.  Com a redução da biodiversidade, o efeito de diluição diminui, facilitando a propagação de doenças. 

A mudança no uso do solo é considerada o maior motor da mudança de biodiversidade, de acordo com a Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES). Segundo o artigo ‘Global trends and scenarios for terrestrial biodiversity and ecosystem services from 1900 to 2050’, publicado na revista Science, sobre um estudo do Centro Alemão de Pesquisa Integrativa em Biodiversidade (iDiv) e da Martin Luther University Halle-Wittenberg (MLU), a biodiversidade global pode ter diminuído entre 2% e 11% ao longo do século XX. 

Entre os dias 21 de outubro e 1º de novembro, acontecerá na Colômbia a Conferência das Partes (COP 16) da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CBD). Mais uma oportunidade de sensibilizar a opinião pública e mobilizar governos, setor privado e sociedade civil a promover ações concretas para o enfrentamento dos desafios dessa agenda. Vale lembrar que as narrativas ambientalistas pela biodiversidade há muito tempo deixaram de ser apenas sobre salvar belos mamíferos e aves em risco de extinção. A mensagem ‘Salve o Homem’, que me marcou há mais de 30 anos, agora faz muito mais sentido.

Espero que a COP 16 consiga transmitir esse recado com clareza suficiente para mobilizar nossa sociedade antropocêntrica.

Por: Renata Mello