Realizado com quase 700 líderes no país pela Amcham, em parceria com a empresa Humanizadas, o novo Panorama ESG 2024 trouxe um dado otimista. Subiu em 24 pontos percentuais, para 71%, o número de empresas que estão adotando práticas ESG.

O incremento pode estar relacionado a um maior envolvimento do C-Level no engajamento dos temas ESG dentro das empresas. Afinal, a própria pesquisa aponta que para os entrevistados, a responsabilidade por liderar essa agenda deve estar nas mãos dos CEOs (77%), com o apoio do governo (67%).

A pesquisa ainda aponta que a motivação para a incorporação das práticas ESG é multifacetada, com 78% das empresas buscando um impacto ambiental e social positivo e 77% visando o fortalecimento de sua reputação no mercado. Ou seja, as empresas reconhecem que estar alinhada às boas práticas e melhores soluções baseadas na natureza, além de promovem um ambienta saudável para sua equipe trabalhar, também gera melhor reconhecimento reputacional no mercado.

Com base nesses dados, fica a dúvida: se tanta gente está preocupada em promover o ESG e agindo da maneira correta, quem está poluindo? Por que não conseguimos avançar na agenda climática? Por que não vemos os efeitos práticos das boas intenções e, na realidade, só constatamos mais e mais tragédias provocadas pela crise climática?

Uma das possíveis respostas pode estar na própria pesquisa: a dificuldade de mensurar, na prática, os impactos positivos gerados pela agenda ESG. Quase metade dos respondentes disse desconhecer fundamentos para medir esses impactos. Isso pode levar a crer que eles sejam ineficazes. Ou seja, de boas intenções… o inferno está cheio. Todo mundo quer fazer o certo, mas não sabe se está fazendo de fato.

Outro insight interessante que a pesquisa traz é que as práticas mais desenvolvidas entre 2023 e 2024 foram a escuta dos stakeholders e a construção de comitês de sustentabilidade. É um bom caminho. É importante que se crie uma cultura dentro da empresa para incluir as diretrizes ESG em cada decisão. Como a de abrir uma nova empresa, devastar uma área para produção agrícola ou explorar novas fronteiras de petróleo quando o planeta pede menos. Bem menos.

Em 1994, o cartunista Maurício de Souza criou um personagem chamado ‘Do Contra’. Ele era tão do contra, mas tão do contra, que conseguia inverter até o polo dos ímãs. No mundo real, o personagem parece ter feito escola. Sem se preocupar com o polo dos ímãs, há quem busque mesmo é inverter nossa percepção sobre o que faz de fato em relação ao que importa nos temas ESG.

Por: Kelly Lima