‘Queremos envelhecer’. Este é o nome de uma campanha liderada pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) neste mês para conscientizar a população sobre a violência contra idosos e idosas e celebrar ‘a beleza do envelhecimento’, nas palavras do órgão. Certamente não é a única iniciativa nesse sentido. Afinal, a data de 15 de junho marca como o Dia Mundial de Conscientização sobre a Violência contra a Pessoa Idosa.
No Brasil, essa conscientização não só é necessária como urgente, comprova um estudo da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Pesquisadoras analisaram denúncias de violência contra idosos entre 2020 e 2023 a partir de dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. E verificaram que no ano passado o total de ocorrências sofreu um aumento de quase 50 mil casos sobre 2022 – crescimento de quase 50%. Foram quase 145 mil denúncias. E como há grande subnotificação, a violência no ‘mundo real’ deve ser bem maior.
A pesquisa ainda traz importantes recortes de idade, gênero e raça/cor da pele:
º Quanto mais velho, mais vulnerável à violência. A análise verificou um percentual expressivo de denúncias envolvendo pessoas de 80 anos ou mais. Em 2023, esse percentual atingiu o seu máximo, com 34% dos casos.
º A desigualdade de gênero se intensifica no envelhecimento. A pesquisa mostra que mais de 67% das denúncias notificadas entre 2020 e 2023 foram feitas por mulheres.
º A população branca foi a que mais denunciou casos de violência e apresentou um crescimento percentual no período temporal analisado, com a população parda sendo a segunda maior categoria Outros estudos revelaram que existe uma tendência no comportamento de pardos e negros, que tendem a minimizar casos de violência possivelmente por conta de experiências anteriores semelhantes.
Em sua ampla maioria, a violência ocorre dentro da casa da vítima. E também é feita majoritariamente por filhos (mais de 50%) e outros familiares (cerca de 15%).
O estudo se volta para a análise de denúncias de agressões físicas e psicológicas. Mas, como a população brasileira, de modo geral, está vivendo mais, é preciso observar também outros tipos de violência. Como a que exclui pessoas mais velhas do mercado de trabalho, por exemplo.
O avanço da medicina e do conhecimento científico vem nos dando a chance de viver por mais tempo, e com mais qualidade. Sim, queremos envelhecer, como propõe o MPCE, mas a gente não quer só envelhecer. Respeito, dignidade e valorização das experiências, sejam elas de vida, sejam profissionais, são elementos fundamentais para que este ganho de longevidade possa ser vivido de modo pleno.