Cada vez mais tragédias associadas a mudanças climáticas ocupam espaço na imprensa nacional e internacional, deixando flagrante a gravidade dos riscos ao planeta e à sobrevivência das espécies – incluindo nós, humanos.
Durante muito tempo, a cobertura da mídia sobre questões relacionadas ao meio ambiente e sustentabilidade eram baseadas, essencialmente, em conclusões de relatórios, estudos e pesquisas técnicas. Ou seja, mais distantes da sensibilidade e do interesse do grande público.
Hoje, as mudanças climáticas e suas consequências são assunto global e urgente, e a imprensa se dedica também a contar histórias humanas, a retratar casos concretos e específicos, com rostos, nome e sobrenome, que aproximam a sociedade do tema e a sensibiliza, num convite à conscientização. Até mesmo o noticiário sobre as condições do tempo, com informações meteorológicas detalhadas, valorizou a agenda jornalística do dia a dia.
Desastres climáticos trazem enormes prejuízos para todos, como ficou patente no Rio Grande Sul. As perdas materiais, físicas e mentais foram generalizadas, atingindo toda a sociedade, direta ou indiretamente, do mais pobre ao mais rico, passando pelo setor produtivo e paralisando o estado.
Os impactos da destruição pegaram os gaúchos. Porém, a capacidade de resposta de cada um é distinta, tanto em grau de dificuldade quanto em tempo necessário à recuperação.
Por isso, o processo de reconstrução exige o desenvolvimento de estratégias e a implementação de uma agenda política, com participação social, que evite que o combate a mudanças climáticas seja um negócio. Um simples comércio de soluções trazidas por consultorias ditas especializadas, mas que atendem, muitas vezes, a interesses imobiliários, como alertam lideranças ligadas a movimentos sociais.
Uma das grandes preocupações das vítimas das enchentes do Sul, que perderam suas moradias e até mesmo suas cidades e vilarejos, é como, quando e de que forma se dará o retorno ao lar. Por isso, especialistas chamam atenção para eventuais riscos de ‘gentrificação’ na recuperação das cidades gaúchas, entre elas Porto Alegre.
A gentrificação é o processo de transformação de áreas urbanas que leva ao aprofundamento da segregação socioespacial nas cidades. Ele modifica a paisagem urbana e o perfil social dos bairros, provocando sua valorização mercadológica e a expulsão de antigos moradores de bairros periféricos e regiões que são transformadas em áreas nobres. É um processo que muitas vezes reforça as dinâmicas de exclusão e reproduz uma estrutura socioespacial desigual.
O tema ‘gentrificação’ vem sendo assunto nas reuniões de pauta de repórteres responsáveis pela cobertura das mudanças climáticas. O jornalismo está alerta. E assim deve ser.