Todos os anos, em junho, a cidade alemã de Bonn sedia o Encontro dos Órgãos Subsidiados, realizado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas. No calendário da instituição, trata-se da mais importante reunião preparatória para as edições anuais da Conferência das Partes (COP), que reúne representantes dos 196 países signatários do Acordo de Paris.
A 60ª edição do encontro (SB60) foi encerrada no último dia 13, e os resultados sugerem que as negociações produziram muito calor e pouca luz, o que já se tornou uma espécie de tradição do evento. Em análise divulgada pelo Observatório do Clima, as palavras da negociadora dos Emirados Árabes Unidos, Hana AlHashimi, durante a reunião resumem essa percepção: ‘Se estivesse indo bem, não seria Bonn’.
Com isso, a exemplo do que aconteceu na COP28, no ano passado, a COP29 será realizada no Azerbaijão sob clima de incerteza. Aliás, parafraseando AlHashimi, se não houvesse incerteza, não seria COP.
A falta de consenso entre os negociadores se deve a um ponto específico: o financiamento climático previsto na Nova Meta Quantificada Coletiva, considerado o principal item da COP29. O dispositivo tem como objetivo estabelecer os valores a serem desembolsados pelos países ricos para financiar o cumprimento das metas climáticas e as ações de adaptação e reparação de danos em nações vulneráveis.
De acordo com o ClimaInfo, os países desenvolvidos seguem resistindo a assumirem novos compromissos financeiros baseados somente em recursos públicos. O grupo defende a ampliação de novas fontes de financiamento, tais como a iniciativa privada, as instituições financeiras multilaterais e recursos públicos de países emergentes.
A posição acerta no que diz respeito à maior participação do setor privado, mas não leva em consideração que nem mesmo a meta de US$ 100 bilhões, estabelecida em Copenhagen, em 2009, foi cumprida. Enquanto isso, o problema se agrava ainda mais.
Relatório que acaba de ser publicado pela British International Investment revela que eventos climáticos extremos, como inundações, calor e seca já afetam 80% de empresas, prestadores de serviços financeiros e investidores na África, Ásia e Caribe. No caso das empresas, 36% tiveram perdas acima de US$ 1 milhão em 2022. Em meio à resistência dos países desenvolvidos, a recapitalização dos bancos multilaterais de desenvolvimento pode ser uma saída viável.
De acordo com Nick Robins, professor de finanças sustentáveis no Grantham Research Institute on Climate Change and the Environment, é possível que mais dinheiro seja investido nos próximos anos em desenvolvimento e no financiamento climático. Para isso, diz ele, é importante que os investidores públicos trabalhem com as empresas e o sistema financeiro local para garantir que os requisitos ESG e climáticos sejam incorporados nesses sistemas.
* Gilberto Lima é produtor de conteúdo, dono da Agência Celacanto, especializado em clima e finanças sustentáveis, e parceiro da Alter Conteúdo