A capa dos principais jornais de hoje relembra um país que poderia ter sido, mas parece ter estagnado, guarda mazelas, sucumbe às polaridades e não reage às adversidades e desafios. Não explora suas potencialidades e não resolve seus problemas mais básicos.
Estampada em todos os jornais, a foto do encontro do atual presidente Lula com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nos lembra de tempos em que mesmo adversários nos campos políticos guardavam respeito mútuo e não dividiam as ‘torcidas’ de modo quase sanguinário.
Logo abaixo, as notícias de tragédias que já víamos nas décadas de 80 e 90, como as chuvas do Sul, as queimadas do Pantanal, a seca – agora no Norte e não no Nordeste –, que na época nos pareciam tragédias ocasionais, mas não tão comuns, e nem tão extremas. Não tínhamos a noção clara das mudanças climáticas que nos esperavam pela frente, e do que poderíamos fazer, nós mesmos, para piorar ainda mais a situação. E não temos quaisquer medidas anunciadas para conter esses problemas ou reverter a situação que os agravam.
À parte as notícias factuais, uma em particular me chama atenção: uma matéria da Folha que traz de volta a Ilha das Flores, tema de um documentário 35 anos atrás, eleito o melhor curta brasileiro da história.
Na época do filme, Jorge Furtado puxou como gatilho o início da coleta seletiva na capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. A ilha era como um depósito de resíduos, e o documentário fazia denúncia sobre os que viviam de catar comida no lixo apenas depois que os porcos haviam sido alimentados com os resíduos.
De lá para cá, os lixões do Arquipélago foram desativados. Mas os moradores continuaram a viver do lixo, não mais orgânico, mas sim o reciclável. Enchem sacolões de 13 quilos para vender. Em 30 dias, um casal consegue juntar até 40 deles, que se revertem em R$ 400.
Relata o texto que a ilha, como outras da região, foi das mais afetadas pelas cheias que assolaram Porto Alegre no início do mês passado, com as águas cobrindo casas de madeira até o teto. Os moradores estão divididos entre abrigos e acampamentos informais nas estradas, sem ter para onde ir, enquanto aguardam medidas públicas para que possam ter suas vidas de volta.
Enquanto isso, no Congresso, deputados encaminham verbas de R$ 4,2 bilhões sem qualquer sinal de transparência sobre o seu destino. São recursos do Ministério da Saúde – os mais cobiçados em ano eleitoral para fazer bonito nas urnas. Ou seja, não mudamos nada.
A máxima da Ilha das Flores continua valendo: primeiro, alimentamos os porcos.