A disparidade de gênero no mercado de trabalho é um dado já conhecido. Apesar das mulheres terem, em média, maior nível de instrução que os homens, elas perdem essa liderança quando o foco é a participação proporcional na força de trabalho brasileira. Segundo o IBGE, cerca de 53% delas estão ativas, ante 73% dos homens.
No entanto, existe uma particularidade que nem sempre se revela quando analisamos dados friamente: boa parte dessa força de trabalho feminina é composta por mães, e a maternidade dificilmente passa em branco na vida profissional. Além de todas as questões hormonais, corporais e emocionais vividas durante os primeiros anos de um filho, mães – sobretudo as recentes – precisam lidar com a forma como a sociedade e as empresas as enxergam a partir desse momento.
Em geral, essa visão é completamente incompatível com a de uma trabalhadora comprometida e apta a realizar suas funções com a maestria de antes. Assim, passam a ser enxergadas como se vestissem apenas uma única roupa: a de mãe. A tecitura dessa vestimenta é composta por um suposto sacerdócio e pelo sacrifício da vida social, cultural, política e laboral da mulher.
Mães não precisam desse olhar. Precisam ser vistas como indivíduos que temporariamente necessitam de apoio legal e empresarial para que vivam em paz durante as primeiras e mais delicadas etapas do crescimento de um bebê, da amamentação exclusiva à adaptação escolar. Mas elas não fazem parte de nenhuma política de inclusão, não têm acesso a cotas em cargos públicos e em provas de vestibular, nem há vagas especialmente para elas nas empresas. Afinal, se enfrentem imensas dificuldades para conciliar qualquer outra atividade com a maternidade, por que não teriam o direito a esse incentivo?
Quando tentam voltar ao mercado, muito comumente são demitidas, portas se fecham, vagas ‘magicamente’ deixam de existir, recrutadores somem. E, quando trabalham, é corriqueiro que tenham a nítida sensação de que, ainda que deem conta de todas as suas tarefas, não percam prazos e entreguem trabalhos brilhantes, elas são ‘apenas’ alguém que pariu. Assim, perdem promoções, são jogadas para escanteio nos projetos, deixam de ser dignas da confiança antes depositada. Por mais que tomem um banho com o melhor dos perfumes, é como se ainda cheirassem ao azedo do leite que inoportunamente vazou de seus seios.
Se mulheres são parte indissociável da força de trabalho, e dentro do conjunto ‘mulheres’ certamente existirão muitas mães, empresas e legisladores devem criar formas de acolhê-las – e se não for por uma questão humanitária, por um fator econômico. Já existem diversas iniciativas em curso que devem estar no radar das empresas e instituições focadas em ESG. Afinal, se a inclusão e a diversidade são um objetivo, há que se considerar as particularidades das mães.
Mas, para além da implementação de ações concretas, como expansão de licença e home office prioritário, é preciso treinar o olhar dos gestores. Para além da roupa de mãe, ali existe uma pessoa que também se veste de talento, capacidade e muita vontade de seguir em frente. Acreditem nela!