Noite chuvosa no Rio de Janeiro e eu chamo um carro no aplicativo para voltar para casa. Depois de três cancelamentos, chega, finalmente, o veículo que vai me conduzir. Um carrinho esportivo, moderno, azul celeste e super silencioso. Desliza pelo caminho suavemente.
Entro no automóvel tecendo elogios. O motorista logo diz, orgulhoso: ‘É cem por cento elétrico, o mais econômico e ecologicamente sustentável do Brasil. E recarrego a bateria na tomada de casa’.
Fico surpresa com a minha primeira experiência em carro elétrico no Uber. E animada em constatar a novidade da eletromobilidade neste tipo de serviço de transporte urbano.
Ao pesquisar sobre o tema, soube da possibilidade, em breve, no Brasil, de passageiros pedirem corridas exclusivamente para motoristas de carros elétricos ou híbridos. A modalidade de ‘carros verdes’ já está disponível em outros países.
O transporte eletrificado está também na agenda de trabalho do BNDES. O banco de fomento anunciou que vai destinar R$ 4,5 bilhões para a aquisição de ônibus elétricos e do tipo Euro 6, que reúnem tecnologias avançadas de eficiência energética e baixo consumo de combustível. É fundamental o investimento em transporte público sustentável para que o país avance na transição energética.
Segundo levantamento do The International Council on Clean Transportation (ICCT) Brasil, veículos elétricos podem ser aliados na redução da pegada de carbono, contribuindo para que o país cumpra metas de descarbonização assumidas em acordos internacionais de proteção ao meio ambiente e clima.
Os números mostram o crescimento da demanda brasileira por tecnologia mais limpa e sustentável. A Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) registra um total de 79,3 mil veículos leves eletrificados vendidos no país no primeiro semestre deste ano – um aumento de 146% sobre as 32,2 mil unidades do primeiro semestre de 2023. A ABVE prevê a venda de mais de 150 mil veículos eletrificados em 2024.
Em meio a esse cenário, crescem também as importações brasileiras de carros elétricos, que já incomodam a indústria automobilística local. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram um ‘boom’ nas compras externas de automóveis de passageiros, puxadas pelos veículos movidos a eletricidade. Somente em junho último elas atingiram quase US$ 2 bilhões, com alta de 432% em relação aos US$ 370 milhões de junho do ano passado. A China, a maior fabricante e exportadora mundial de veículos eletrificados, encabeça o ranking. As vendas de carros chineses para o país somaram US$ 1,5 bilhão no mês passado, com expansão bombástica de 2.872% em relação aos US$ 50 milhões de junho de 2023.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) revela que no primeiro semestre deste ano 51,7 mil veículos importados da China foram emplacados no Brasil. O que significa uma alta de 450% na comparação com os 9,4 mil carros em janeiro/junho de 2023.
Resta saber como esse mercado se comportará daqui para frente, após o aumento, em 1° de julho, do Imposto de Importação (II) dos veículos eletrificados de 10% para 18%. E já há um movimento interno para elevar o II para 35%. Sem falar na proposta de inclusão dos carros elétricos no Imposto Seletivo (IS), o ‘Imposto do Pecado’ da Reforma Tributária, um tributo a ser cobrado sobre produtos que fazem mal à saúde e ao meio ambiente.
E aí fica a pergunta: como conciliar aumento de imposto com acesso a veículos menos poluentes? A transição energética não tem a resposta. Mas a classe política sim. Resta saber para qual lado dessa balança ela tenderá: se mantendo velhos paradigmas ou permitindo a ‘livre concorrência’ que muitos políticos pregam como essencial. E que, nesse caso específico, beneficiaria não somente o consumidor, mas todo o planeta.