10 de julho de 2024 | Estratégia ESG, , , , , ,

A favela no debate global

Por Renata Mello

Em alto e bom som, a voz das favelas decidiu que será ouvida na décima nona reunião da Cúpula do G20, que acontecerá no Rio de Janeiro, em novembro. Na segunda-feira (8/7), ativistas, líderes comunitários, organizações da sociedade civil e representantes do poder público se reuniram no Morro do Vidigal (RJ) para o lançamento do F20, uma mobilização inédita, formada para ampliar, amplificar e reverberar para o mundo as vozes dos 16 milhões de brasileiros que vivem em favelas em situação de vulnerabilidade econômica, social e climática. A iniciativa será integrada ao G20 Social, agenda criada pelo governo para incluir a sociedade civil nos debates. 

Organizado pela Voz das Comunidades, ONG que promove jornalismo comunitário e ações de impacto social e cultural, o lançamento do F20 se desdobrou em 5 painéis, que trataram de temas como inclusão da favela nos debates globais, combate à fome e à pobreza, redução de riscos de desastres nas favelas, justiça climática e acesso a água e saneamento básico. 

É profundamente angustiante testemunhar a luta histórica por direitos básicos como água, saneamento e alimentação digna, agora confrontada com a urgência da adaptação dos territórios diante da crise do clima. Termos como ‘ansiedade climática’ e ‘racismo climático’, inclusive, permearam todos os debates, destacando a interseccionalidade das questões de sobrevida enfrentadas pelas comunidades vulneráveis.

Mas engana-se quem pensa que a voz das favelas é passiva, ou que a comunidade vulnerável é sinônimo de ‘coitadolândia’. Se o G20 historicamente falha em abordar adequadamente as desigualdades econômicas globais e promover justiça socioambiental, o F20 mostrou que está preparado para influenciar a tomada de decisão, colocando na mesa soluções criadas e protagonizadas por lideranças originárias dos territórios. 

É o caso da Favela 3D, iniciativa do Instituto Gerando Falcões. Utilizando coleta sistemática de dados e diagnóstico abrangente do território e das famílias, o programa elabora planos de desenvolvimento local, familiar e pessoal com soluções co-criadas pela comunidade. 

‘Hoje temos na nossa rede mais de 2 mil líderes sociais de todos os estados brasileiros que trazem soluções criadas em seus territórios para o nosso programa. Nosso trabalho é conectar essas soluções ao investimento da iniciativa privada e articular com o poder público o apoio à implementação das soluções’, explicou Valter Gomes, líder da iniciativa. 

Das margens ao centro das discussões globais, o F20 mostra que as favelas não esperam mais. Se organizam para liderar a transformação munidas de resiliência, criatividade e sabedoria ancestral.

Por: Renata Mello